HISTÓRIA DE UMA ELEIÇÃO

    Candinho Matos, Doutor Heleno, Eder Silva, Luizinho, Paulo Baltazar e Reinaldo Crip. Já ouvir falar de algum deles?Não, não é? Pois todos são deputados federais da bancada do RJ. Para tanto, ultrapassaram o quociente eleitoral mínimo exigido na última eleição que foi de cerca de 70.000 votos. Dá para acreditar? Vamos passar para os mais conhecidos. Você conhece algum eleitor de Francisco Dornelles? De Rubem Medina? De Amolde de Oliveira? Se não, como são eleitos? Ainda existem muitos submundos nas eleições brasileiras. Uma de suas histórias mais escabrosa foi relatada por Jânio de Freitas em artigo na Folha-SP: O excepcional repórter e articulista de irretocável credibilidade, ao saber que no "caso Roseana", o seu pai, o senador José Sarney, citou como responsável pela ação ilegal dos agentes da Polícia Federal o deputado Márcio Fortes, lembrou que o deputado tem sido agente de episódios, digamos, peculiares. Informou no texto que a vocação do deputado ficou conhecida quando Sarney na presidência, muito atacado por Brizola, concordou em dar a Moreira Franca em 1986, a colaboração que pedia para derrotar Darcy Ribeiro, candidato à sucessão do primeiro governo brizolista no Rio. O plano consistiu em entregar a Márcio Fortes a presidência do antigo BNDE. Hoje BNDES. Todas as grandes empreiteiras de obras públicas e muitos grandes empresários amarraram com Moreira e Fortes obras formidáveis, contratos fantásticos e financiamentos a rodo em caso de vitória. A campanha teve dinheiro para comprar a eleição de uns dois ou três governadores. Moreira Franco no governo e Márcio Fortes no BNDE, à proporção em que eram lançados os editais das grandes obras, a Folha ia demonstrando, ao publicar antecipadamente os resultados das concorrências, a fraudulência montada para o roubo nos cofres públicos. E, ainda, a falsificação dos custos, com preços multiplicados por três, quatro vezes, e freqüentando a intimidade cad casa dos bilhões de dólares. Era um cancelar sem fim de licitações e obras. Na redação carioca da Folha, Jânio recebe um telefone de Fortes. Começou "pisando firme", como contou o jornalista. Mas, colocado em seu devido lugar, optou pelo freio de mão. Colocou, primeiramente que, imaginava estivesse Jânio morando em São Paulo e depois pediu ao jornalista que comparecesse ao BNDE para uma conversa. Obteve como resposta que, se o desejo era do deputado, que este fosse até a redação. Seu telefone teve outro propósito. À mesma hora em que ocorreu, o portão da casa do repórter foi arrombado por um sujeito que, ao se perceber notado por pessoas da vizinhança, saiu apressado. O agressor já vinha sendo observado através de dois outros repórteres do jornal que sabiam as características do seu carro, além de possuírem toda a sua ficha, inclusive fotografia. Foi identificado como um  dos brutamontes instalados no palácio do governo e chefiados pelos bandidos Nazareno e Miguelzinho, ambos assassinos no estilo queima de arquivo. A finalidade do telefone de Márcio era de que, supondo ser o jornalista morador de São Paulo, aparentaria impossibilidade de envolvimento com o ataque à residência no Rio de Janeiro. Creio que o principal linque entre a dúvida lançada no primeiro parágrafo e a história do Jânio de Freitas é a certeza de que não basta apenas informatizar e modernizar o processo eleitoral brasileiro. É preciso neutralizar os possíveis personagens. Poderia-se tomar como exemplo a forma que polícia inglesa descobriu para prevenir-se contra a ação daqueles torcedores bêbados e fanáticos, denominados "Holligans": como estão identificados, são todos presos, preventivamente, antes de cada jogo de futebol. Em nosso caso, creio que caber ao TRE determinar o tempo necessário. Mas, e aí? E de Márcio Fortes? Você conhece algum eleitor? 

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