MUSAS

    Na caixa-postal havia a seguinte encomenda: “recebi esses vídeos de cantoras estrangeiras e estou repassando com uma pergunta: já escreveste sobre as musas de filmes, mas será que não tiveste também uma “paixonite” pelas cantoras da época? Acho que dá crônica…”Também achei. Mas, primeiro, preciso esclarecer que o pouco espaço que a Elis Regina deixou para que eu curtisse outras cantoras, foi quase que integralmente ocupado por brasileiras. A exceção foi Edith Piaf. De intérpretes estrangeiras, gosto de uma música ou outra.Acho que a maioria da minha geração curtiu a Celly Campello que surgiu cantando rock’s “água com açúcar”, numa época em que predominavam os sambas-canções “dor de cotovelo”. “Estourou” com “Estúpido Cupido” e depois  “Banho de Lua”. Mesmo tendo surgido num tempo em que se torcia o rosto para quem era artista, Celly Campello, por seu ar ingênuo e comportamento recatado, conseguiu ser a nora que toda mãe sonhava. Como era usuária de blusas comportadíssimas e saias rodadas que chegavam aos tornozelos, só nos restava realizar cansativos exercícios de imaginação para saber como era o panorama escondido “debaixo dos panos”.Aos 20 anos, no auge do sucesso, casou com um namorado da adolescência e sumiu. Em 1976, graças a novela Estúpido Cupido, da Globo, tentou retomar a carreira, mas, com o fim da novela, voltou ao ostracismo. Morreu de câncer em 2003. Tenho a impressão de que um dos meus sonhos e o de muitos jovens da época era poder participar das reuniões do apartamento de Copacabana, de Nara Leão, onde surgiu a bossa-nova. Sua suave e afinadíssima voz, a franja na testa, o sorriso sempre aberto e os joelhos que se tornaram “preferência nacional”, fizeram-na musa do gênero musical. A partir do movimento golpista de 1964, passou a ser cantora de protesto, participando do espetáculo “Opinião”, uma crítica social à repressão militar. Ainda durante a ditadura foi morar em Paris por três anos. Depois, diminui consideravelmente suas aparições musicais. Morreu em 1989, aos 47 anos, vítima de um tumor inoperável.  Tive com Nara Leão uma breve e atribulada convivência, já que eu “morria de ciúmes” ao saber que se apresentava com vestidos de bainha de dois dedos acima dos joelhos.  Com a morte da Elis Regina em 1982, andei um período no “vácuo”. Até que soube que o Rubem Braga havia classificado a Paula Toller, como a mulher mais bonita do Brasil. Com um fã dessa estirpe, eu, que já andava com um “olho meio comprido” para cima dela, passei a conferir todas as suas aparições na TV, a ponto da minha esposa comentar: – “Não sei por que toda hora que o Kid Abelha aparece você vem ver. Que eu saiba você não gosta desses conjuntos…”Sem que eu entenda os motivos, Paula Toller permaneceu pouco tempo como minha musa, já que canta lindamente, possui ótimo repertório e, quase aos cinquenta, exibe um corpinho de dezoito.   De vez em quando realizo tentativas para preencher o cargo. Outro dia, deixei de lado o medo de estabelecer comparações, e, finalmente,  sentei para ver a Maria Rita cantar em DVD. Puxa vida! Que saudade da Elis Regina!

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