O ANTIGO X O NOVO

             Num programa radiofônico, uma debatedora afirmou que, apesar das novas facilidades do dia-a-dia, existem costumes insubstituíveis. Deu o exemplo da mensagem eletrônica que jamais substituirá uma apaixonada carta de amor, escrita com letra caprichada em papel decorado e perfumado, com texto copiado de coletâneas vendidas em banca de jornal, postada em envelope bem transado, contendo, em anexo, uma pétala de rosa. Contrariando a opinião conservadora, o assunto rendeu opiniões favoráveis aos novos “confortos”.          O escritor Ruy Castro citou a esferográfica Bic que acabou com o reinado das canetas que necessitavam de tinteiro para recarga, mata-borrão e sujavam as mãos e a roupa.          Alguém se lembrou das comodidades oferecidas pelos caixas eletrônicos e lembrou como era o saque numa agência bancária: o caixa verificava o valor desejado, ia até ao arquivo e procurava o cartão de autógrafo do emissor na gaveta que indicasse a letra inicial do seu nome. Pegava a sua ficha, conferia a assinatura, via o saldo e diminuía dele, na hora, o valor do cheque. Anotava o novo saldo, voltava para o caixa, apanhava o dinheiro, contava as notas, conferia e só depois disponibilizava a quantia.                    Outro ouvinte citou o controle remoto e o tempo em que para se trocar o canal da TV era necessário levantar-se do sofá, onde estava confortavelmente sentado, para girar o seletor de canais. Lembrou, também, quando era preciso colocar uma escada para aumentar ou diminuir o ar-condicionado que ficava “lá no alto”.                    Entre as mulheres o silicone foi muito mencionado. Afinal, tem o poder de levantar e aumentar os seios e arredondar e arrebitar os bumbuns. Mas o campeão absoluto foi o cartão de crédito. Não foi necessário explicar as causas.          A maioria dos homens elegeu a cerveja em lata como a grande sacada dos tempos atuais. Gela com rapidez, o pouco volume não a deixa esquentar e dispensa o copo.          Como a debatedora, presumo que há controvérsias sobre as novas facilidades do dia a dia. O uso da caneta tinteiro obriga o capricho da letra. Não é raro o cartão emperrar num caixa eletrônico, o dinheiro não aparecer e não haver qualquer funcionário para resolver o caso. O cartão de crédito é uma armadilha para quem não sabe usá-lo. Os implantes de silicone tem gerado inúmeras reclamações e arrependimentos. E o controle remoto em mãos “inimigas”? É capaz de trocar o canal bem na hora em que o seu time vai fazer o gol.             Mas, a cerveja é a que merece um parágrafo contrário à parte. O cervejeiro juramentado exige o som do “tchuf” da tampinha sendo retirada do casco escuro. Admira a fina camada de gelo se transformar em gotas e descer suave pela garrafa. Contempla a bebida sendo despejada no copo e a espuma derramar pela borda. Só depois desse ritual é que ele dá um longo gole na bebida e limpa a boca com o dorso da mão. Em seguida emite a sílaba que traduz o prazer e satisfação proporcionada pelo líquido amarelo ouro: AAAHHH!

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