O LADO OCULTO DA MINHA VIDA – Parte III

    No texto anterior eu terminei dizendo que estava dando aulas para um casal de filhos de um General do Exército, em Botafogo, na casa dele. Percebi também que o General me olhava de longe com certa curiosidade até que certa noite me pediu que antes de sair tivéssemos uma conversa. Eu concordei sem saber o assunto. Ficamos a sós, na sala, e aquele senhor, sério, educado, calmo, mostrou-me o seu outro lado: ele era espírita, médium muito evoluído, possuía na visão o poder de ler a aura das pessoas e perceber a presença de seres para além do plano físico.  Logo me veio à mente outra vez o Dr. Ferreira Gomes, em Belém do Pará. Os dois jamais se conheceram. Haviam transcorrido cerca de cinco anos, pois estávamos então em 1964, e no Rio de Janeiro.  Ouvi dele palavras semelhantes as que me dissera, anos antes, o Sr. Ferreira Gomes, em Belém, em 1958. Afirmou também que eu possuía uma aura cujas cores indicavam uma boa saúde, chegando a se referir ao meu caráter e dizendo um pouco do meu futuro, caso eu não me desviasse do meu comportamento de então.   Após terminar a leitura, digamos, espiritual, do que lhe era permitido ver, disse-me que convinha procurar desenvolver minha mediunidade. Mas, assim como me falara o Sr. Ferreira Gomes, anos antes, garantiu que a iniciativa teria de partir de mim mesmo, jamais de outrem. Uma vez por semana, à noite, ele fazia palestras com base científica numa casa grande e antiga, também em Botafogo. Ali funcionava uma Associação Espírita. Convidou-me a comparecer e eu lá fui, acompanhado do casal de filhos dele que me davam a maior força. As palestras me fascinavam, até porque àquela altura eu já começava a mergulhar na literatura espírita, além da prática da ioga. Curiosamente eu começava a me sentir estranho, a ponto de me retirar para uma varanda ao lado, quando começava a sessão de psicografia. Vários médiuns, sentados em volta de uma grande mesa, entravam em transe e passavam a escrever ininterruptamente diversas mensagens. Os filhos do palestrante, meus alunos, me acompanhavam generosamente sem me fazer nenhuma crítica.  Na seqüência de nossos encontros quando eu ia dar aula aos seus filhos nunca mais ele tocou naquele assunto. Eu, por outro lado, me mantive apegado apenas às leituras sobre o espiritismo. Nas minhas sessões de relaxamento, em casa, eventualmente o caso da sensação de saída do corpo físico se repetia, mas só quando eu conseguia relaxar completamente.  O medo do desconhecido, não obstante o grande interesse que eu tinha procurando ler muito e bons autores, conseguia me impedir de levar as eventuais experiências mais adiante. Sempre lamentei isso, porém me acovardava e interrompia o processo. Algum tempo depois um colega do BB, que era professor, me indicou para dar aulas a Gerentes de outro Banco. Foi uma nova experiência que me agradou muito e que influiu também para que logo após ele me levasse para o DESED – Departamento de Treinamento de Pessoal, do Banco do Brasil. O DESED marcava uma nova era do nosso Banco com a adoção do treinamento de funcionários em vários níveis. Parei com as aulas que eu ministrava preparando candidatos aos concursos já por mim referidos. Passei a me dedicar apenas às minhas novas atividades no BB. Ali fui coordenador de cursos, instrutor, e depois programador do treinamento em certo nível. O novo trabalho me levava a viajar constantemente e isto me afastou bastante das minhas investigações sobre o espiritismo. Em verdade eu sempre creditei este afastamento mais àquele receio, ou medo, que nunca deixava eu assumir o que duas autoridades no assunto me haviam revelado.  Os anos se passaram até que as constantes vindas a Cabo Frio, refiro-me a mim e à minha segunda esposa, acabaram por nos incentivar a comprar aqui uma casa, no bairro do Braga. Vínhamos com certa freqüência até começo de 1986, quando então eu me aposentei do BB. A partir dali dividíamos nosso tempo morando alguns meses aqui e outros no Rio. Neste ínterim surgiu a idéia de irmos morar na Europa. Eu queria voltar não só a Portugal como e principalmente, a Salreu, perto de Aveiro, minhas raízes, onde vivi por um ano, com meus pais, aos 10 anos, em 1947. Realizamos este sonho em quatro longos períodos de três em três anos. Quando estávamos no Brasil, mantínhamos a rotina de morar parte do tempo no Rio e parte em Cabo Frio.  Numa de nossas estadas nesta querida cidade praiana acabamos conhecendo D. Esmeralda que nos foi apresentada por uma vizinha. Tratava-se de uma senhora espírita que mantém, até hoje, um Centro do outro lado do Canal de Itajuru. Zezé sempre fora católica fervorosa, todavia ela gostou daquela senhora e passaram a conversar longamente algumas vezes. Por uma dessas coisas que alguns chamam de coincidência e outros de fatos marcados, ou lá o que seja, após conhecermos D. Esmeralda, a filha adotiva de um sobrinho nosso adquiriu uma doença que nenhum médico soube dizer o que era. A menina, jovem e bonita, de repente foi definhando e mais definhando, chegando a ficar, apenas e quase, pele sobre osso. Os senhores doutores logo a sentenciaram à morte. Os mais “otimistas” chegaram a lhe dar só mais uma semana de vida.  O aspecto dela não animava ninguém a achar que a jovem sobreviveria. Quando a vimos pela primeira vez em nossa casa, no Rio, carregada pelo pai, (e ela já tinha 16 anos) tivemos que nos esforçar muito para conter a emoção. Ao saírem, choramos. Foi quando Zezé resolveu ter uma conversa com D. Esmeralda, em reservado, e perguntar-lhe se poderia fazer alguma coisa pela menina, já que a ciência médica desistira de tentar salvá-la. (Meu relato segue na próxima crônica)

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