O LADO OCULTO DA MINHA VIDA – Parte IV

    Terminei o relato anterior dizendo que Zezé procurara a senhora espírita, D. Esmeralda, em Cabo Frio, perguntando se haveria alguma coisa que ela pudesse fazer para salvar a vida da filha adotiva do nosso sobrinho que estava com os dias contados segundo alguns médicos. Ela sempre foi muito querida por todos nós.  D. Esmeralda pediu diversas informações tanto sobre a menina como sobre a mãe dela. Várias reuniões continuaram a ser realizadas entre ela e Zezé. Depois formaram um grupo de pessoas que participavam de trabalhos assistenciais do Centro Espírita e que, dali pra frente, se reuniam quase diariamente tratando do caso da jovem. Eu acompanhava tudo à distância. Não me envolvi pessoalmente. Deixarei de detalhar não só as reuniões que se seguiram como as conclusões a que chegaram todas as pessoas que se encontravam com um único objetivo: ajudar a salvar a jovem Ana, filha adotiva de um sobrinho nosso. Os detalhes traduziam as razões do que acontecera com a jovem, como e porque, e mesmo quem estaria envolvido naquela maldade.  Nenhum médico acreditaria se lhe fossem então reveladas as causas daquela “doença” que ameaçava a vida da menina. Claro que entendo também a posição de alguns que possam estar a me ler e que mantenham certa ou total incredulidade sobre o que digo. Garanto-lhes, todavia, que não estou falseando com a verdade, mas não me move nenhuma preocupação em fazê-los acreditar no que lhes conto. O que me surpreendeu foi a participação ativa de minha saudosa esposa,  procurando saber de tudo e tendo constantes encontros com a senhora espírita, D. Esmeralda. Ela que sempre fora uma católica radical começou a mergulhar de cabeça nos assuntos relativos ao espiritismo a partir dali. Pouco falava comigo sobre o assunto, apenas o indispensável para eu me manter informado. De repente, sem que a ciência médica explicasse a razão, Ana, condenada à morte por alguns doutores, começou a apresentar visíveis sinais de melhora. Voltou a ter apetite, disposição para falar e fazer o que mais gostava, cantar e tocar. Suas forças estavam retornando rapidamente. Isto acontecia no Rio, enquanto as pessoas do Centro que trabalhavam para livrá-la daquele mal vivem aqui, em Cabo Frio.  O pai de Ana resolveu leva-la a um dos médicos que, antes, não viam como ela pudesse sair daquela situação de fraqueza absoluta e que a haviam sentenciado à morte em poucos dias. Afinal nem tudo está ao alcance da inteligência dos seres humanos. Infelizmente quando não conseguem descobrir causas preferem estabelecer “sentenças”, e eu mesmo já tive um caso em família.  Vivi, antiga empregada da casa dos meus pais, após cirurgia para retirada de certo tumor nos intestinos, foi desenganada e o médico mais otimista lhe dava apenas mais cinco dias de vida. Amigos, a nossa querida Vivi, que também passou a ficar “com data marcada para morrer”, só partiu desta vida aos 86 anos, algo como 20 anos após sua “sentença de morte” estabelecida pela ciência dos homens.  Voltando à filha de nosso sobrinho, algum tempo após sua recuperação total as pessoas do Centro Espírita de cá, que tanto se empenharam para a livrar do mal que ameaçava encerrar seu ciclo de vida, fizeram questão de a conhecer e foi combinada uma vinda da jovem a nossa cidade. A reunião ocorreu na casa da vizinha em frente, que nos apresentara D. Esmeralda.  Resumindo, foi uma noite festiva. Assisti a tudo pela janela de um dos nossos quartos, no segundo andar. Por que lá não fui? Pediram-me para tomar conta do neto da vizinha, que era meu afilhado e tinha 5 anos. No fundo pareceu depois a mim uma grande “desculpa”, da minha parte, para não estar presente ao que tudo vi e ouvi pela janela. Nossas casas eram bem próximas. Enquanto a mãe da jovem, Zezé e sua irmã, e outros permaneciam numa pequena sala interna, a menina Ana e os espíritas que haviam trabalhado para salva-la conversavam, se abraçavam, a grande, num ambiente ao ar livre. Todos, segundo eu soube, estavam com espíritos incorporados, seres que teriam ajudado para livrar Ana daquela doença. A jovem não demonstrava nenhum medo, apenas estava feliz e dividia sua felicidade com todos que a trouxeram de volta à vida.  A partir daquele fato decidimos promover, ao final do ano, um Natal para as crianças carentes de Cabo Frio. O acontecimento se deu justo no Centro Espírita de D. Esmeralda. O Papai Noel era o outro sobrinho querido, irmão do pai da jovem, que já tivera experiências semelhantes no subúrbio do Rio. Foi tudo muito emocionante, porém ao mesmo tempo percebemos que no olhar das mães havia um sofrimento muito grande e uma carência ainda maior traduzida por… fome. No ano seguinte decidimos repetir o mesmo evento, no mesmo local, todavia daquela feita conseguimos muito, muito mais além de brinquedos… alimentos bem variados. Perceber a felicidade das pessoas por tão pouco, suas lágrimas misturadas a sorrisos de agradecimento, nos fez sentir que estávamos vendo o retrato do verdadeiro Brasil.  Naquele dia Zezé resolveu me pôr frente a frente com D. Esmeralda e disse a ela o que se passava comigo quanto à mediunidade que eu jamais assumira. Contou-lhe também sobre as revelações que as duas autoridades no assunto me haviam feito, em cidades diferentes e tempos bem distantes.  Tentei me justificar, porém a senhora espírita me fez ouvir novamente as mesmas palavras que os outros dois já me haviam dito: eu, somente eu, poderia e deveria tomar a iniciativa de assumir o dom mediúnico. Recomendou à Zezé que jamais insistisse comigo no assunto. Voltei à estaca zero. Eu continuava e continuo acreditando, eventualmente professando, mas sem assumir meu papel definitivo. (Meu relato segue na próxima crônica)

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