O LADO OCULTO DA MINHA VIDA – Parte VI

     Assim terminei minha narração no texto anterior: “Certa vez aconteceu um fato, de madrugada, no Rio, no apartamento de Ipanema, que mexeu muito com minha emoção. Eu dormia no quarto dos fundos e Lena no da frente. ”  “Sei que será difícil para algumas pessoas acreditarem na minha narrativa, porém, mais uma vez reafirmo que eu estava consciente, mesmo dormindo, e que estarei sendo completamente fiel a tudo, nos mínimos detalhes, sem falsear em nada.” Em pleno sono, de repente tive a consciência perfeita de tudo que estava à minha volta. Eu, com os olhos fechados, conseguia ter uma visão de quase 360 graus do quarto. Cheguei a perceber que Marlene abrira a porta, bem devagar, sendo que eu estava virado para o meu lado direito, na cama, e a porta fica do lado oposto.  De imediato vi a imagem de Zezé se aproximando de mim. Eu a via em todos os detalhes. Mantinha no rosto um suave sorriso. Era como se ela caminhasse justo pelo lado da cama em que eu estava virado. A certa altura ela sentou bem perto de mim. Eu me mantinha imóvel, olhos fechados, como se estivesse, naqueles momentos, vivenciando tudo em dois níveis de consciência. Tudo parecia, apesar das circunstâncias, muito real. Mantendo o sorriso e olhando fixo para mim, ela foi esticando o braço direito suavemente trazendo sua mão para tocar no meu rosto. Infelizmente no exato momento em que aquele gesto de carinho ia se completar minha lamentável estultice, mais uma vez, me fez gritar, como que assustado, em situação que eu tanto esperava acontecesse. Sinceramente não sei explicar a razão que me leva a isso. Marlene fora beber água na cozinha e olhara pela porta do quarto para ver se estava tudo bem comigo. Quando saía ouviu meu grito e voltou. Naquele instante eu acordei, percebia que voltara ao plano físico. Expliquei à amiga Lena o que acontecera. A primeira reação dela foi a de qualquer outra pessoa, disse que eu devia estar sonhando. Eu sabia que não sonhava. O estado de sonho é bem diferente, nunca nos percebemos no mesmo ambiente. Como dizem os entendidos, ao sonhar o espírito se entrega em estado de vigília, geralmente para fugir à realidade. Vaga em devaneio, fantasia. Não, não era este o meu caso naqueles breves minutos, tenho convicção disso.  Cada um que tire suas conclusões, respeito todas, mas tenho a minha. Nos dias seguintes como que eu ficava ansiando pela repetição daquela inesperada visita. Eu jurava a mim mesmo que da próxima vez não gritaria, não teria medo, iria deixar acontecer para ver até onde aquilo iria dar. Infelizmente ela não voltou.  Somente alguns meses depois, em Cabo Frio, estando eu a dormir, tendo apenas como companheiro, meu querido Touche, em sua caminha, ao lado da minha, e mais três quartos vazios na parte de cima da casa, no bairro do Braga, de repente percebi que novamente eu mergulhava na situação narrada acima, no Rio. Voltei a ter aquela visão de quase 360 graus, mas com meus olhos completamente fechados. Percebi que eu voltava talvez a um estado de consciência duplo, não sei se digo alguma bobagem, mas é assim que me sentia outra vez. Embora o quarto e todo o segundo andar estivessem completamente às escuras eu via tudo numa suave claridade. Tudo mesmo. Daquela vez eu estava virado na cama para o lado esquerdo. O vulto de Zezé logo surgiu e estava novamente sorrindo e olhando para mim. Aproximou-se bem devagar e eu, ainda que quisesse, não conseguia me mexer. Tudo acontecendo tal e qual meses antes no Rio.  Novamente ela esticou o braço suavemente na direção do meu rosto e quando estava por tocar minha face… desculpem, não sei o que me leva a fazer isto, mas voltei a gritar e assim desfiz todo aquele quadro que, no fundo, me agradava. Touche me olhava, coitado, assustado. Eu voltara ao plano físico.  Encontrava-me só, com Touche, eram quase três da madrugada. Estávamos em Maio/2004. Só fui contar novamente à Marlene o que se repetira, no dia seguinte. Esta sempre foi, como Zezé o era por quase toda a vida, muito católica. Ficava-lhe difícil admitir aquilo como algo que tivesse realmente acontecido, como algo integrado numa realidade que não se restringe apenas às três dimensões que conhecemos neste plano físico. Sei também que muitos não acreditarão. Tudo bem. Já houve outros reencontros, mas nesses casos eu os identifico perfeitamente como sonhos, nada mais que sonhos. Lamento até hoje eu não ter me decidido a assumir a minha mais do que identificada mediunidade. Parece uma decisão simples, mas garanto que não é.  Curiosamente depois que casei com Lena e passados os primeiros meses, eu a vejo muito interessada em pesquisar no campo do espiritualismo sem qualquer influência minha, pelo contrário. Ela tem lido, e muito, diversos livros, sérios, o que antes eu não a via fazer. Gosto disso. Eventualmente ela troca opinião comigo. Hoje em dia eu a acompanho à missa embora não me sinta muito à vontade porque não gosto das exageradas cantorias, dos movimentos com os braços e outras coisas de que não participo. Não canto, não bato palmas, não balanço as mãos. Estudei 7 anos em Colégio de Irmãos Maristas e tínhamos que assistir à missa todos os domingo. Essas eram bem diferentes das que promovem hoje. Evitamos atualmente, de comum acordo, as missas realizadas na nova Catedral daqui. Julgo as missas de lá mais como uma espécie de um espetáculo teatral. Ela é muito grande, o altar se assemelha a um grande palco, não há imagens, e padres mais novatos aproveitam para se exibir em alguns certos exageros de movimentos. Que me desculpem os que pensam o contrário. Hoje Lena concorda comigo. Quando vamos a alguma missa nos dirigimos, às quintas-feiras, à Igreja do bairro de S. Cristóvão, aqui perto. Não obstante as cantorias que lá também tem, as missas de meio de semana são mais simples, mais diretas, como eu gosto e sempre estive acostumado desde jovem. Bem diferentes das que são realizadas na Catedral, especialmente nos fins de semana. De uns meses para cá, Lena mudou também de atitude no que se refere à comunhão, mas vou deixar esta revelação para o próximo texto. Há muito que dizer desde meus tempos com Zezé e mostrar semelhanças que me surpreendem. (Meu relato segue na próxima crônica)

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