O LADO OCULTO DA MINHA VIDA – Parte VII

    Encerrei o texto anterior com essas palavras: “De uns meses para cá, Lena mudou também de atitude no que se refere à comunhão, mas vou deixar esta revelação para o próximo texto. Há muito que dizer desde meus tempos com Zezé e mostrar semelhanças que me surpreendem.” Alguém perguntará por que falarei da comunhão? Ocorre que desde quando casei com Zezé, isto em 1964, por ser ela solteira e eu ainda desquitado, a Igreja Católica não nos permitia, em termos de suas regras e dogmas, por exemplo, comungar. Isto me foi afirmado por uns três padres que consultei. Um chegou a dar a entender que nossa união era, digamos, “amaldiçoada”, ou coisa semelhante, entendem?Um absurdo, mas verdade.  Em 1989, viajando no transatlântico italiano, o Eugênio-C, do Brasil para Portugal, certo dia assistimos à missa a bordo e ao final decidimos ter uma palavra com o padre italiano. Ao revelarmos a ele nossa situação, fechou a cara e reafirmou o que já sabíamos. Apenas pela minha situação, então divorciado, nós éramos pessoas nada gratas à Igreja e, portanto como que excomungados. O problema é que para a Igreja “o que Deus uniu o homem não pode separar, nunca.” Vejam que eu e Zezé sequer casamos na Igreja Católica, já que eles não nos aceitavam, assim casamos na Igreja Católica Apostólica Brasileira, do então Bispo de Maura, na Penha, no Rio, em 1964, para atender a um desejo da mãe dela que fazia questão de ver a filha vestida de noiva. Atendemos ao seu desejo. Depois do que nos dissera o tal padre italiano, isto em 1989, enfim Zezé se revoltou, despertou, concordou comigo e desde então passamos a comungar, sem confessar a nenhum padre, mas sim diretamente a quem julgávamos que devíamos, ou Ele. Sei que estávamos desobedecendo a preceito da Igreja Católica, mas e daí? Excomungados por excomungados… Estávamos decididos. Nós chegáramos à conclusão de que nenhum homem, ainda que de batina, poderia nos impedir de fazer um ato que a nós parecia perfeitamente normal. Afinal se considerarmos o que tanto de erros e equívocos bem graves os homens, através dos séculos, já cometeram em nome da Igreja Católica… pelo amor de Deus!  Até que a Igreja, desde João Paulo II, tem pedido desculpas por muitos “equívocos” cometidos num passado que, me desculpem os católicos mais radicais, tem exemplos nada dignificantes. E, convenhamos, erros condenáveis continuam ocorrendo, alguns sendo abafados, e tendo sempre envolvidos neles padres e até bispos que deveriam zelar pelo bom nome de sua Igreja. Há amigos que concordam comigo outros que discordam. Respeito a opinião desses e nem pretendi jamais puxar polêmica neste assunto. Só estou expondo a minha e a da saudosa Zezé, isto por tudo que passamos. Para nós, entretanto, o que importava era nossa felicidade. Então simplesmente quando desejávamos não só assistíamos à missa como comungávamos, respeitosamente, entendendo que a satisfação que tínhamos a dar jamais voltou a passar por algum homem de batina.  Isto durou até o fim dos dias de Zezé, embora já nos últimos anos ela estivesse muito interessada nos assuntos do espiritualismo, lendo, pesquisando, e até aceitando sua participação direta em casos como o da salvação da filha de nosso sobrinho, assunto por mim tratado no capítulo IV. Revejam, por favor. Marlene cuidou de mim e de minha casa, aqui em Cabo Frio, na pior fase de minha vida desde Junho/2003 quando fiquei viúvo. Somente a pedi em casamento, quando já estava divorciada, em abril/2008. Por que falo nisso? Entendam que, para a Igreja minha situação passara a ser “normal”, afinal eu agora estava viúvo, o que equivale a solteiro. Já Lena, como divorciada, digamos que passara a uma situação “não abençoada” pela Igreja. A mesma que eu vivera antes, por décadas. Dogmas à parte, logo que casamos e quando eu acompanho Marlene à missa, se me dá vontade eu comungo, mas ela não o fazia antes por já saber da “proibição” da Igreja. Eu respeitava esta posição dela. O tempo foi passando, e após tomar conhecimento de tantos escândalos ligados diretamente a pessoas da Católica que deveriam dar o exemplo, Lena se sentiu revoltada e traída. Eu jamais influí nesse julgamento que ela passou a fazer. Certa noite, quando assistíamos à missa das quintas, no bairro de S. Cristóvão, aqui em Cabo Frio, conduzido pelo bom padre Francisco, catarinense, ao me levantar para ir comungar, Lena pegou em minha mão e disse: “Eu também vou comungar”. Confesso que me surpreendi, mas ao mesmo tempo senti uma pontinha de alegria pela nova posição da minha atual esposa. A história se repetia. Isto aconteceu há pouco mais de um ano e já se repetiu em outras oportunidades. Neste tempo Lena já vinha demonstrando interesse também por conhecer mais profundamente o espiritismo. Repito: sem qualquer influência minha. Fiquei feliz em vê-la constantemente a ler livros e mais livros, o que continua a acontecer, e apenas eventualmente me pede opinião sobre este ou aquele livro. O fato me trouxe de volta a imagem de Zezé quando tomou esta mesma decisão, meramente pessoal.  Incluo esses fatos nesta narrativa porque jamais falara sobre eles com mais alguém, salvo com pessoas, muito, mas muito íntimas. Acredito que eles tenham a ver com o que resolvi chamar de “O Lado Oculto da Minha Vida”. Ademais, a esta altura do meu viver não tenho porque não abrir o meu coração, sem medo de ser feliz, até porque nada tenho a esconder e assim dou oportunidade aos amigos e amigas passarem a me conhecer ainda melhor. Certo ou errado? Não importa. O que eventualmente um ou outro leitor irá pensar, para mim pouco ou nada diz, nem me preocupa, embora, repito, eu respeite a posição de cada qual. O Lado Oculto da Minha Vida acaba de ser desvendado conscientemente, com total seriedade, sempre fiel aos fatos, sem fantasiar nenhuma situação, todavia só não posso fazer crer a quem tenha dificuldade em aceitar determinados aspectos de minha narrativa. Fatos que eu omiti são íntimos demais para serem divulgados. No próximo texto farei apenas um Comentário Final fechando tudo que narrei.

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