O MAIOR ESPETÁCULO DA TERRA

            Estamos em março e já são conhecidos os resultados dos desfiles por todo o país, inclusive o da cidade de Macapá onde todas as escolas de samba, por suspeita de corrupção dos jurados, foram declaradas vencedoras (seria mais justo se todas fossem consideradas perdedoras). Entretanto, mesmo atrasado e sem nenhuma pretensão, vou meter o bedelho no assunto escolas de samba que,  como  futebol, política e novela, todo brasileiro entende.          Eu era daqueles que virava noites assistindo ao desfile pela TV e vivia cantarolando sambas de enredo, inclusive aqueles das letras mais complicadas, cujo significado não tinha a mínima idéia.  Apesar de uma leve preferência pela Portela, andei “caído” pela União da Ilha do Governador quando a escola, abordando enredos como “Domingo” e “O que será”, deixou a disputa para as demais escolas e foi para a avenida brincar carnaval.            Depois, comecei achar o desfile uma chatice, julgando que as escolas eram todas iguais, confundindo-se até nas cores e só conseguia assistir pela TV a apresentação de, no máximo, duas agremiações. Quando da divulgação do resultado, torcia por aquela que tivesse apresentado, pelo menos, uma única novidade, de acordo com o que havia lido ou ouvido falar.            Recente entrevista do carnavalesco da Unidos da Tijuca, Paulo Barros, corroborou essa minha impressão, admitindo que sua busca pelo novo, veio do fato de que o desfile estava chato e que, não raro, via pessoas de costas para a pista no meio da apresentação de uma escola.         Não sou saudosista. Sei que o tempo das pastoras e dos passistas nas escolas de samba acabou.  Vislumbro que os mestres-salas e porta-bandeiras entrarão em desuso e que rainha de bateria, pela visibilidade que lhes dá a imprensa e pelo valor financeiro que possui o posto, será em breve um quesito em julgamento.             Outra coisa que sempre soou mal aos meus ouvidos era ouvir que os desfiles das escolas de samba “é o maior espetáculo da terra”. Creio que a afirmação, exacerbadamente ufanista, varia de regiões. A população  amazonense deve achar o mesmo do Festival Folclórico de Parintins.  Os maiores espetáculos da terra, mesmo concordando que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, ao meu ver, são os esportivos: Jogos Olímpicos, Copa do Mundo e Jogos de Inverno. É só comparar a repercussão e o interesse despertado  e ver que não é a toa que a mídia mundial desembolsa quantias inimagináveis para cobrir e transmitir esses eventos.            No sábado, após o carnaval, assisti ao desfile da Unidos da Tijuca, cujo enredo “Segredo” foi definido com precisão por uma passagem do samba de enredo: “seu olhar, vou iludir. A tentação é descobrir”. A apresentação da comissão de frente, com as trocas de roupas de mágicos, foi um aperitivo de quanto diferente, criativa, nova e “viva” viria toda escola. A Unidos da Tijuca desfilou pela Sapucaí exibindo um filme com um enredo cheio de surpresas e reviravoltas que ninguém ousava prever o final.  Sua apresentação foi um divisor de águas. Pode ser que não, mas, daqui pra frente, o carnaval das escolas será classificado como antes e depois da Tijuca.        Se as demais escolas seguirem o seu caminho de buscar o novo, trocar a mesmice pela surpresa e achar um jeito (que nem imagino qual seja) de substituir o julgamento pessoal pela impessoalidade, acho que o desfile até poderá se candidatar a ser o maior espetáculo da terra. E pode ser até que eu volte a assistir…

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