PRAZO DE ENTREGA

             A síndrome do pânico para quem escreve com prazo de entrega é ficar encarando a tela do micro e não conseguir escrever uma única linha. A impressão que se tem é a de estar perdido sozinho num deserto, a pé, sem oásis, sem sombras e o que é mais trágico: sem vislumbrar uma final para o “branco”.                 Existem períodos em que a falta de assunto é tamanha que nem mesmo a matemática do 1% de inspiração e 99% de transpiração é capaz de ajudar. Tampouco a receita pessoal de ouvir disfarçadamente conversas alheias, puxar pela memória, ler tudo e fuçar a internet.            Recorrer ao estoque em busca de textos atemporais para serem usados nessas horas nem sempre é a solução. Muitas vezes a constatação é a de que já foi plenamente utilizado. E a última instância de “repaginar” algum texto antigo, na maioria das vezes é tiro n”água. Quase nenhum deles possui mais a qualidade que o tempo passou a exigir, além de que, a maioria aborda assuntos do “tempo do onça”.            Cronistas profissionais receitam contra a síndrome da tela em branco, jogar palavras e frases numa panela em fogo baixo e ficar misturando. Quando der “liga”, adicionar os temperos, os condimentos e aumentar a temperatura do fogo. Depois de refogado, é só acrescentar algumas palavras bonitas, menos usuais, que tem a mesma função das rodelas de tomate e das folhas de alface num prato sofisticado: a de enfeitar.            O Zuenir Ventura contou no Globo que o  Edu Lobo, num show, usou para si o exemplo do compositor Cole Porter, quando lhe perguntaram sobre a sua fonte de inspiração: “é o telefonema do produtor, encomendando uma música”. Tom Jobim falou coisa parecida: “minha musa inspiradora é o prazo!”.            Ainda do Zuenir a notícia de que num encontro literário, coube-lhe falar da encomenda e dos resultados. Discorreu que além do prazo e da encomenda como fontes de inspiração, há outra musa mais recente: o adiantamento financeiro. O procedimento é usado na indústria editorial e geralmente o escritor recebe o dinheiro e gasta. Depois, sem ter como voltar atrás e precisando receber o que falta, a solução é meter os peitos e produzir a obra.              Quando estou “nesses dias em que nada desce redondo”, imagino o que devem sofrer as mulheres que sofrem de TPM. Tenho prazo de entrega e esporadicamente recebo encomendas (tenho dificuldade em atender porque, dificilmente, o assunto freqüenta a minha praia). Quanto a receber adiantamento pelos textos não tenho esperança, sequer pretensão. Gosto de escrever e a atividade me faz bem, o que torna escravo da síndrome do “0800”.             Adotar como tema a falta de assunto, quando, como diria o poeta, o tempo “ruge”, é o único remédio, para quem está sem assunto.         Obs, Hoje, dia 16 de maio, a melhor e mais bonita cidade do mundo, Nova Friburgo, completa 196 anos. O destaque  do desfile cívivo-militar desta manhã,  é a presença dos garis da COMLURB do Rio de Janeiro, que logo após a tragédia que se abateu  sobre a cidade em janeiro, realizaram um incansável e desinteressado serviço de limpeza das ruas friburguenses. Tenho certeza de que serão ovacionados!   

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