REPAGINANDO O FIGURINO

            Depois de frustrantes experiências, passei a recomendar aos meus familiares que não mais me presenteassem com roupas, principalmente camisas. Durante anos, podem ser contadas nos dedos, às vezes que nossos gostos combinaram.        Mas, conhece aquela máxima de que “por onde passa um boi passa uma boiada?” Sem que eu percebesse minha esposa, aos poucos, foi ganhando espaço para palpitar no meu modo de vestir.         Assim, eu, que sempre fui adepto da camisa de manga curta para fora da calça jeans, um dia me surpreendi ao constatar no espelho que havia adotado as camisas de mangas longas (dobradas) por dentro da calça social.         Após a “abertura” os ataques ganharam intensidade. No Natal, fui presenteado com duas camisas. Uma delas foi o ponto de partida para a criação daquelas antigas estampas de pano de colchão. E a outra, confeccionada com um tipo de tecido, cujo padrão, forraria, com elegância, uma mesa de copa. Minhas presenteadoras alertam que se eu continuar vestindo, alternadamente, as camisas, rapidamente elas vão esgarçar. Mesmo correndo o risco de ser ofertado com novas réplicas, minto retrucando que uso exagerado, decorre do ótimo caimento no meu corpo.De vez em quando tenho que ser rápido para apagar alguns incêndios: é quando minha esposa começa a admirar nas vitrines aquelas camisas muito usadas pelos roqueiros cinqüentões, ao mesmo tempo em que imagina as peças “incluídas” no meu corpo. Corto logo o mal pela raiz: “- Não sei como tem gente com coragem de usar uma camisa dessas!”.  Com a entrada do outono, mais algumas imposições: a primeira aconteceu num dia frio, pela manhã. Fui pegar no armário o meu inseparável casaco impermeável do Colégio Anchieta, de Friburgo, quando, a minha frente, surgiu um blazer e a irônica recomendação: “O frio que está fazendo é ideal para você estrear esse presente que lhe dei há alguns anos”. À noite, tomei banho e vesti o meu histórico uniforme de dormir: short e camiseta. Contudo, quando fui para o quarto, repousava, em cima da cama, um pijama novinho em folha. Tentei disfarçar: “Comprou pijama novo?”. E ela, sem me olhar: “Comprei para você…”.  Mas, o pior estava reservado para o sábado seguinte: fui devidamente “presenteado” com um conjunto de moletom para usar em casa. Minha filha mais velha, ao me ver enfiado naquela fantasia, se espantou e disse: “Nunca imaginei meu pai usando uma roupa cafona como essa!”. E concluiu: “Pai! Você está proibido de sequer ir à calçada com esse troço!”.           Mesmo com tantas concessões à ala feminina, devo dizer que o regime lá em casa ainda é extremamente machista. E para comprovar, afirmo que, para falar comigo, minha esposa tem que AJOELHAR: “MARIO SAI AGORA DEBAIXO DESSA CAMA E VEM AQUI FALAR COMIGO!”.

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