SERIAM OS DEUSES MÉDICOS?

     Outro dia minha amiga Maria Júlia, que mora em Salvador, enviou-me um pequeno texto com a história de uma senhora que fora desenganada por médicos. Esses lhe haviam informado que teria apenas mais quatro meses de vida. Acreditando na “sentença médica” ela tomou algumas decisões e as teria  transmitido às amigas e parentes mais ou menos com essas palavras: “Ora, eu tenho um bom tempo para fazer tudo que já devia ter feito  há muito. Arrumarei todos os meus armários, guardarei o que realmente uso e o resto jogarei fora ou doarei a quem precisa. Colocarei belas cortinas em todas as janelas e elas me impedirão de ficar olhando a vida alheia. Evitarei ouvir e assistir más notícias e alimentarei o meu espírito com leituras saudáveis, conversas amigáveis.” “Dispensarei fofocas e não criticarei a mais ninguém. Todos os dias tirarei o pó da casa e, durante esse trabalho, pensarei:  – Estou me livrando das sujeiras que guardei do passado. Pensarei naqueles que já me magoaram e, com sinceridade, os perdoarei. Todas as noites agradecerei a Deus por tudo que estarei conseguindo fazer nestes últimos 4 meses que me restam.”  “Todas as manhãs, ao acordar, perguntarei a mim mesma: – O que posso fazer para tornar o dia de hoje um dia melhor?  E farei de tudo para transmitir felicidade àqueles que de mim se aproximarem. Quatro meses são mais de 120 dias, portanto, quando eu fechar os olhos para nunca mais abri-los, eu terei feito no mínimo 120 boas ações.” Na continuação da narrativa acrescenta a mensagem: “Ela tinha uma grande tarefa:  transformar seu mundo interior, tornar-se uma pessoa totalmente diferente do que já fora, em apenas 4 meses. Ela conseguiu cumpri-la plenamente. O mais curioso dessa história é que, após a notícia dada aos familiares, ela viveu mais 23 anos. Ela curou a sua própria alma e sua moléstia desapareceu; ela morreu naturalmente de velhice.”Para mim este fato não é novidade e digo a razão. Em minha família a grande maioria tem partido desta vida após os 80 anos, alguns até com 85, 86 e mais. Uma pessoa que fora empregada e se manteve integrando nosso ambiente familiar, certo dia foi internada com sério problema nos intestinos. Médicos diagnosticaram que ela não sairia com vida do Hospital. O mais “otimista” sentenciou: “vive no máximo uma semana.” Uma das testemunhas dessas sentenças foi minha irmã, médica, Dra. Otília Dora, além de outras irmãs.Vejam que a nossa Vivi, se fosse uma pessoa fraca de espírito, depois de ouvir aquela “sentença médica” poderia até ter contribuído com um comportamento depressivo de forma que esta acabasse se cumprindo. Mas parece que isso não importa a este tipo de médico.Vivi, entretanto, ao ouvir a “sentença médica”, dita por uma de minhas irmãs, olhou para ela e perguntou: “Quem ele pensa que é, Deus? Pois olha, só  quem pode saber quando eu vou partir desta vida é Ele, o lá de cima, não um mero ser humano, mesmo sendo médico.”Vivi, sempre magrinha e disposta a ajudar a todos, saiu do hospital e … viveu mais 22 anos, acreditem. Morreu aos 86 de morte natural. E assim muitos outros casos a gente vai tomando conhecimento porque alguns médicos decidem o tempo de vida de alguns pacientes baseados apenas nos sintomas ou nas doenças, a ciência não lhes permite admitir outros fatores no julgamento.Não faz muito tempo ouvi de certo doutor, conceituado, sem eu nada ter-lhe perguntado sobre o assunto, esta assertiva: “Que minha mulher não me escute, mas se Deus existisse mesmo por que então morreriam tantos romeiros em nossas estradas quando eles viajam apenas para participar de festas religiosas?”Preferi calar-me. Mais na frente comentei que quase a minha vida inteira tenho sido tratado com homeopatia. Já faz cerca de 40 anos que me consulto com o conhecido e renomado Dr. Carlos de Faria. Muito raramente, como aconteceu há pouco tempo, eu fui a algum médico da chamada alopatia. E trabalhei por dois períodos de três anos, cada um, no Departamento Médico da Dir. Geral do BB.Estou hoje, como sabem, com 72 anos. Após ouvir aquele meu comentário o ilustre doutor respondeu rápido e com certa ironia na voz: “Olhe, homeopatia é bom até a pessoa ficar doente, aí tem que recorrer é mesmo a nós.” Novamente me calei, mas me ocorreu este pensamento: “Ética nem pensar!!”Tenho conhecido médicos e médicos, principalmente quando trabalhei na área médica do BB, há muito tempo atrás. Alguns costumam se julgar verdadeiros deuses, donos da verdade, e não admitem contestações. Tudo bem, eles estudaram muito para chegar onde chegaram, é verdade, mas humildade não custa nada.Quem seria que de quando em vez resolve contrariá-los fazendo pessoas viverem muito, mas muito mais do que eles “profetizam” em algumas sentenças médicas? Os dois exemplos que lhes coloquei acima, pelo menos um deles nós vivenciamos no seio familiar. Se Deus existe ou não cada qual tem a sua fé, a sua religião, ou não, e eu respeito a posição de cada um. Infelizmente nem todos têm esta postura.Tenho amigos religiosos e ateus e uma coisa é certa: jamais discutimos ou debatemos sobre religião. O que não admito é que alguém, ainda mais culto, com formação superior, se coloque na posição de juiz para desmerecer a fé de outros. Religião não é futebol, nem política. Claro que tenho o maior respeito pela classe médica como um todo, mas também nela há os que a desmerecem como ocorre em todas as categorias profissionais. Eu tenho o hábito de não levar a sério quando um deles resolve  marcar “prazo de vida” para alguém. Daí o meu título: “Seriam os deuses médicos?”

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