SINAL – 20 ANOS

              Existem momentos na vida que, por mais que desejemos, temos a impressão de que jamais serão vivenciados novamente. No último dia 18, assisti, entre emocionado e saudoso, ao documentário sobre os 20 anos do Sinal.            Não faço parte do time que atuou, desde o início, dos movimentos reivindicatórios do BC, que teve como base a luta pela extinção da categoria isolada (conferentes de numerário e auxiliares de serviços administrativos – ASAs), da qual fazia parte. As normas para esse segmento do funcionalismo vedavam a ascensão profissional e continha excrescências que impediam até a aposição da assinatura em documentos oficiais do BC.              Eu era apenas um observador atento das primeiras movimentações. Só passei a acompanhar mais de perto, quando um amigo me chamou atenção para o discurso e para a liderança de Paulo Roberto de Castro, que, para a maioria dos engravatados da época, era apenas um inconseqüente. É bom que se diga que tanto o Paulo como o meu amigo eram "bois" (técnicos básicos B.01), ou seja, membros de uma classe funcional com todos os direitos negados aos conferentes e ASAs.                Quando, finalmente, o Banco resolveu reconhecer a representatividade funcional, tive a honra, junto com a Mônica Botafogo, de ser indicado pelos servidores da antiga Reorf como seu representante. Naquele setor não houve candidaturas. Os servidores poderiam votar em quem quisessem. Tivemos indicação próxima da unanimidade.             O crescimento de um movimento que nasceu tímido com a distribuição clandestina de uma publicação denominada OVO, em uma associação representativa, a AFBC – e, finalmente, a sua transformação em sindicato, para mim sempre foi um sonho inalcançável. Contudo, não só para o Paulo, como para as demais lideranças que foram surgindo, não havia dúvidas: apostaram todas as fichas e ganharam.              No documentário de 44 minutos, narrado com depoimentos de todos os presidentes do Sinal, revi cenas inesquecíveis como a do restaurante da ADRJA apinhado de servidores assistindo a uma assembléia. A ponto de, caso fossemos atrasar por um algum motivo, sermos obrigados a pedir a um amigo para tentar guardar lugar.            Também, dessa época, lembro de uma previsão sombria da Mônica Botafogo sobre o futuro da luta funcional: "o Sinal está vivendo a sua primavera. Mas, existirão os dias de verão, de outono e de inverno". Que o digam os dezenove grevistas demitidos pelo presidente José Sarney.             Foi profundamente gratificante e emocionante assistir e ouvir novamente o Paulo Roberto, demonstrando aquela precisão cirúrgica ao analisar um determinado momento de uma greve, com um alcance e um poder de previsão inigualável. Dessa cena, um diagnóstico e uma certeza: o diagnóstico é de que o sindicalismo no Banco Central só é vitorioso graças a liderança do Paulo. A certeza é de que ele vive. Daqui, um pedido de desculpas aos demais expoentes da época, igualmente admirados.             O final do documentário é apoteótico: ao som de "Emoções", são mostrados inúmeras fotografias de greves, encontros e participações, e, principalmente, de gente que não vejo há tempos, de quem havia esquecido, de gente que conheço, de gente que não conheço e de gente que, hoje, não reconheço mais.             Após o encerramento, esbocei um cumprimento aos responsáveis pela idéia, mas a voz embargada e a lágrima envergonhada impediram. Até mesmo porque o som da voz de Roberto Carlos dizendo que "se chorei ou se sorri/ o importante é que emoções eu vivi", não deixou espaço para mais nada. 

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