SOBRE MALAS, PASTAS E BOLSAS

    Já contei por aqui que, há "séculos" atrás havia um chefe no BC que portava com desmedida autoridade uma mala do tipo 007. A "bicha", mantida brilhando como nova, era cheia de salamaleques, adesivos, segredos e cadeados, dando a entender ser a guardiã de documentos de alto nível que, se caíssem em mãos "inimigas", poderiam colocar em risco a soberania nacional.Como a importância do nosso setor não era "essa bola toda", formaram-se duas correntes de opinião sobre o seu conteúdo: uma delas de que lá dentro havia uma escova, uma pasta de dentes e um pente. A outra apostava num bloco, num lápis e numa borracha – intactos.Um dia, com o hall do prédio lotado para a entrada dos servidores, o chefe chegou afobado e na pressa, tropeçou num ressalto. A mala caiu, aberta, e o  seu secretíssimo conteúdo esparramou-se chão: nada mais do que vários tubos de pastilhas de hortelã Garoto.No debate que antecedeu o segundo turno das eleições presidenciais de 1989, Fernando Collor dispôs na bancada várias pastas, que muita gente garante que continha apenas papéis em branco. Toda hora ameaçava consultá-las. Dizem que Lula, ressabiado, ficou com medo de algum documento comprometedor que a qualquer momento pudesse ser sacado pelo opositor e por isso foi mal no encontro. Certamente recordava que o adversário havia exibido um depoimento "sujo" de Miriam Cordeiro, sua ex-namorada, acusando-o de ter urdido o aborto de Lurian, filha do casal.Mas, a versão mais provável foi que, como o debate começou tarde e varou a madrugada, a Globo, "colloridíssíma", editou para os seus telejornais do dia seguinte, as cenas favoráveis ao seu preferido e desfavoráveis a Lula, fator que pode ter sido decisivo para a vitória de Collor. Agora, a ex-diretora da Anac, Denise Abreu, que foi fotografada fumando charuto numa festa, num fim de semana em que milhares de passageiros se desesperavam nos aeroportos, usou a tática da posse de papéis bombásticos, chegando para prestar depoimento no senado com um "malão" de uns 30 quilos. Depois de meses em silêncio, falou "pelos cotovelos", invocou a Deus, acusou, "desacusou", mas, não apresentou nenhum documento que comprovasse nada.Uma bela manhã, uma ex-chefe adentrou a sala em que eu trabalhava, apoiou a bolsa em cima da sua mesa e enquanto "cuspia marimbondos" e soltava impropérios para todos os lados, passou a esvaziar a dita cuja com o objetivo, pelo que pudemos entender, de procurar uma chave. Como dizia um filósofo friburguense, mulheres carregam a casa nas bolsas, se bobear até filho.Assim, do interior do "bolsão" e de outras bolsinhas menores, foram surgindo sombrinha, óculos de grau e escuro, palavras cruzadas, livro, espelho, cremes, batom, pinça, colírio, balas, radinho, escova, pente, lixa de unha, agulha e linha e finalmente, de um fundo falso, um revólver!Ninguém teve coragem de perguntar se arma era de brinquedo ou se estava carregada. Todo mundo saiu de "fininho". E se ela resolvesse descarregar a sua fúria em um de nós?Os episódios me mostraram que as ameaças iminentes da abertura de pastas, malas e  valises não passam de blefes. Mas, no caso de abertura de bolsas femininas, se não chego a ter medo, guardo profundo respeito.E principalmente, me mantenho em calculada e segura distância.

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