TODO MUNDO VIU – II

    Fui eu citar na crônica da semana passada alguns fatos "que todo mundo viu (ou estava lá)", como o primeiro treino do Garrinha no Botafogo, a morte da Cássia Eller e a Copa de 50, para receber "puxões de orelha" por não lembrar de eventos que podem ser classificados na mesma categoria: os shows do Frank Sinatra e do Paul Mcartney no Maracanã, os comícios das "Diretas" e alguns históricos jogos de futebol.Feito os registros, vou voltar ao tema, abordando as suas variações.Uma delas é a possibilidade de milhares de pessoas enxergarem o mesmo fato de forma antagônica. Explicando melhor: em 1969, Fluminense e Botafogo decidiram o campeonato estadual, bastando o empate para o Bota. Quase no final do jogo, empate em zero e o Flu foi ao ataque. A bola, levantada na área, foi disputada pelo goleiro do Botafogo e por um jogador do Fluminense. Na jogada seguinte, acabou em gol. O juiz validou a seqüência do lance, o Flu ganhou de 1 x 0 e sagrou-se campeão. "Todo" botafoguense garante que estava atrás do gol e que houve falta no goleiro. "Todo" tricolor, também diz que estava atrás do gol e jura que não aconteceu a falta no goleiro.Outra é aquela história de "que possuo um amigo, que tem uma vizinha, cuja irmã …".Em 1965, entre a eleição indireta e a posse para presidente, Tancredo Neves ficou doente. Como pairava um mistério sobre o mal que o havia acometido, começaram os boatos. Eu trabalhava no BC em S. Paulo e, pelas manhãs, surgiam as notícias "do amigo, que tinha uma vizinha, que conhecia um médico que disse….". Toda segunda-feira ao chegar, sentia que havia a expectativa de que, vindo eu do Rio, pudesse trazer alguma novidade. Mas, como nunca tinha nenhuma notícia para dar, passei de "cara legal" para "carioca alienado".O ator Mario Gomes, nos anos 70, ganhou o apelido de  "cenourinha", porque todo mundo "era amigo de um primo de um médico" que o atendeu no hospital onde foi retirar a dita cuja do cujo. Meses depois é que surgiu uma versão mais palatável: Mario Gomes havia "roubado" a Betty Faria do Daniel Filho, e este, desesperado, espalhou o maledicente boato. Todavia, ambas as histórias carecem de comprovação.Mas, entre as reclamações sobre o "todo mundo viu (ou estava lá)", recebi também a colaboração do aposentado Salvador Lacerda Falcão:"Poucos meses antes de partir para outra, em 2004, meu pai conversava comigo quando comentei sobre o fato de eu, então com 13 anos incompletos, ter presenciado, em sua companhia, ao segundo jogo de maior público na história do Maracanã:Fla 0 X 0 Flu, na decisão do carioca de 1963. Mais de 177 mil pagantes. Inesquecível para mim, que tenho, hoje, 50 anos de comparecimento aquele estádio.Mas, ele negou ter assistido ao jogo e completou: "Nunca assisti a um jogo no Maracanã". Se as pessoas presentes não soubessem da sua doença (memória, etc…) eu ficaria mal na fita. Só para contrariar, eu baixei no YOUTUBE um filmete de 5min, com a tal decisão, extraído do "Canal 100" e quando a câmera passa pelo lado da arquibancada, que eu juro que lembro onde estava, eu grito: "olha eu ali!". Acreditem, se quiserem…"Quem conhece o Salvador, como eu, acredita piamente.

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