Eduardo Campos De Brasília
Em uma entrevista em que voltou a criticar a candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, a presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que conceder independência ao Banco CENTRAL representaria dar o quarto Poder aos bancos. Dilma assegurou que em seu governo o BC é autônomo e condenou o que seria uma tentativa de sua adversária de se fazer de vítima.
Dilma declarou ser contra a independência da autoridade monetária, pois o BC “não é um Poder”. Independência é uma coisa, autonomia é outra, disse a presidente, em Brasília.
Para a presidente e candidata à reeleição, o conceito de independência compete apenas aos três Poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário. “Isso será muito agressivo no ouvido de todo mundo, mas independência é Poder”, disse a jornalistas no Palácio da Alvorada, completando que o quarto Poder era da imprensa. “O quarto poder não pode ser dos bancos”.
O discurso da presidente mantém a linha das propagandas da campanha petista que sugerem que o BC independente seria dominado pelos banqueiros, que teriam poder sobre o salário e emprego dos trabalhadores. No entanto, a independência do BC não guarda relação com banqueiros: o presidente continua sendo escolhido pelo presidente da República e referendado pelo Congresso.
Questionada sobre a propaganda que relaciona a independência do BC com a falta de comida na mesa, Dilma destacou que um BC que não tem como meta o máximo emprego “tira, sim, a comida” e a perspectiva dos brasileiros.
A peça publicitária causou mal-estar no meio empresarial e até dentro do próprio governo.
A meta do BC brasileiro é assegurar o poder de compra da moeda, dentro do regime de metas para a inflação. O objetivo é entregar a inflação na meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que atualmente é de 4,5% com banda de dois pontos para mais ou para menos. O BC americano, por exemplo, tem um mandato duplo, a estabilidade de preços e o emprego máximo.
Perguntada sobre as críticas de Marina à falta de um programa de governo, a presidente respondeu que seu programa está há quatro anos nas ruas. “[O programa] está sendo feito, estou aqui prestando conta de parte do meu programa”, disse, em referência a um balanço do programa Ciência Sem Fronteiras. Dilma afirmou que na campanha é preciso discutir propostas e que sempre esteve em momento paz e amor”.
No entanto, instantes depois afirmou que teve um momento de muita indignação quando Marina acusou o PT de ser responsável por um “assalto” na Petrobras. Dilma lembrou que durante 27 anos Marina foi do partido, ou ocupando cargos em governo ou na bancada da sigla no Congresso. “Acho que de fato houve um ataque e que não era um ataque político. Foi um ataque ao PT e a mim”, frisou.
Para Dilma, não há problema em discutir propostas, mas o que “não cabe é se vitimizar”. “Vou falar uma coisa, a vida como presidente é aguentar crítica, sistematicamente aguentar pressão. A vida do presidente é pressão e crítica”, disse. “Não tem coitadinho na Presidência.
Se sente-se coitadinho, não se pode chegar lá.” Segundo a presidente, quem levar a pressão e a crítica para o lado pessoal “não será uma boa presidente”.
“Tem que segurar a crítica.
O Twitter não é problema, os problemas são de outra envergadura e, se não tiver coluna vertebral, você não segura”, declarou.
Ao falar sobre o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que denunciou suposto esquema de corrupção na estatal, Dilma afirmou que o poder Executivo não deve interferir na possibilidade de convocação do ex-dirigente para depor na Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras. “Acho que esse é o tipo da decisão que o Executivo não tem que se meter”, disse. “Não temos expectativa e preocupação com relação a isso”.
Dilma anunciou a segunda etapa do programa Ciência Sem Fronteiras, que dá bolsa de estudo fora do país a estudantes brasileiros.
Serão oferecidas mais 100 mil vagas.
O programa tem em aberto 14,9 mil vagas das 101 mil ofertadas, mas há fila de 60 mil inscritos.
Fonte: Valor Econômico