BC da Indonésia vive dilema parecido com o brasileiro

    Por Aline Oyamada | De São Paulo

    Preocupado com a fraca atividade econômica, o banco central da Indonésia interrompeu ontem o ciclo de aperto monetário iniciado em junho deste ano, mantendo a taxa de juros estável em 7,5%. O BC do país vinha elevando os juros para combater a alta inflação, que ainda está bem acima da meta de 4,5%, e tentar reduzir o alto déficit em conta corrente.

    A conjuntura atual da Indonésia é parecida com a do Brasil. O país também passará por eleições gerais em 2014, o que tem sido visto como um desafio para a economia, já que o país precisa de mais medidas para ajudar a reduzir o déficit e estimular o crescimento. Além disso, a Indonésia, como o Brasil, esteve no olho do furacão quando o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) sinalizou, em maio, que a redução dos seus estímulos poderia começar nos meses seguintes, o que torna o próximo ano ainda mais desafiador.

    Tanto no Brasil como na Indonésia, as taxas de juros foram levadas às mínimas históricas no ano passado. Em ambos os casos, o intuito era estimular a economia doméstica frente a um cenário internacional de desaceleração, mediante a percepção de que a inflação estava sob controle. Mas, em ambos os casos, o índice de preços surpreendeu, e os BCs foram obrigados a colocar em prática um ciclo de aperto monetário, a despeito do crescimento ainda fraco.

    Sob o recente ciclo de ajuste monetário, a Indonésia elevou a taxa de juros básica da economia de 5,75%, o menor nível da história, para o patamar atual, com o objetivo de controlar a inflação e reduzir o alto déficit em conta corrente do país. Assim como no Brasil, a meta de inflação da Indonésia é de 4,5%. A banda é um pouco menor, com tolerância de 1 ponto percentual para cima ou para baixo.

    O banco central indonésio iniciou o ciclo de aperto monetário em junho, elevando a taxa de juros de 5,75% para 6%. Na época, a inflação do país estava em 5,90%, acima do teto da meta. No comunicado divulgado após a reunião, a autoridade afirmou que a medida havia sido “parte do mix de políticas do Banco da Indonésia para responder preventivamente à expectativa de alta da inflação”.

    A autoridade estava certa. A inflação do país subiu para 8,79% em agosto, atingindo o pico do ano. A autoridade continuou elevando os juros até novembro, quando a taxa atingiu 7,5%. Em resposta, o índice de preços desacelerou para 8,37% em novembro, último dado disponível. Ontem o BC afirmou que a decisão de manter os juros é “consistente com o esforço contínuo para trazer de volta a inflação para dentro da banda em 2014 e reduzir o déficit em conta corrente para um nível mais sustentável”.

    Apesar de a inflação na Indonésia continuar bem acima da meta, o BC pôs o pé no freio, dado que o crescimento do país, como o do Brasil, continua a desacelerar. O nível de expansão ainda é bem superiores ao brasileiro, mas a tendência é de desaquecimento. Entre 2010 e 2012, após a crise, a Indonésia cresceu, em média, 6,3%. Para 2013, a expectativa do Fundo Monetário Internacional é de 5,3%.

    Na Indonésia, a inflação estava em 3,56%, abaixo do centro da meta, quando a taxa de juros atingiu o menor patamar da história, 5,75%, em fevereiro de 2012. Ao divulgar sua decisão na época, o BC indonésio soltou um comunicado que tocava nos mesmos pontos que o BC brasileiro naquele momento, afirmando que a redução era “um passo a mais para impulsionar o crescimento econômico do país em meio a uma desaceleração do desempenho da economia global, sendo que a prioridade continua a ser cumprir a meta de inflação e manter a estabilidade do câmbio”.

    Outros desafios à frente da Indonésia são a implementação de importantes reformas estruturais e a questão do déficit em conta corrente, que deve fechar o ano em 3,5% do PIB. Para reduzi-lo, analistas dizem ser necessário que o déficit na conta de petróleo seja estreitado e, para tal, a expectativa é que os preços dos combustíveis, que já subiram 30% em média em 2013, sejam novamente elevados em 2014.

     

    Fonte: Valor Econômico

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