Brasil perde credibilidade perante investidores externos

    Contas públicas desajustadas, aumento da inflação, mudanças no sistema de precificação do setor elétrico e alterações nas regras de exploração e licitação do pré-sal, comforte impacto na Petrobras, preocupam

    Liana Verdini

     

    O Brasil teve uma expressiva corrosão de credibilidade perante os investidores estrangeiros nos últimos três anos. A avaliação é do sócio fundador da Rio Bravo Investimentos, Paulo Bilyk, que atribui esse desgaste do país à instabilidade institucional produzida por contas públicas desajustadas, aumento da inflação,mudanças no sistema de precificação do setor elétrico e das regras na exploração e licitação do pré-sal, com forte impacto na Petrobras. “As contas públicas brasileiras estão em evidente processo de deterioração, e isso já vem há muito tempo.

    Além disso, a inflação é preocupante, especialmente porque tem uma conexão com o fiscal devido ao represamento dos preços administrados, das tarifas públicas”, explicou. “É importante destacar que os investidores estrangeiros tinham grandes posições no setor elétrico e a mudança no sistema de precificação desse setor foi muito ruim”. Segundo ele, esses mesmos investidores têm grandes posições também em Petrobras. “A preocupação dos investidores agora é saber de onde a Petrobras vai tirar tanto dinheiro pra fazer os investimentos no pré-sal sem conseguir fazer caixa, já que o preço dos combustíveis vem sendo represado”.

    Para o executivo da Rio Bravo, empresa que administra um patrimônio de R$ 9,5 bilhões, a maior parte de grandes fundos estrangeiros perpétuos,o país está brincando perigosamente com suas contas públicas. “As pessoas estão ousando dizer que talvez o Brasil coloque em risco até o seu status de investment grade. Mas certamente o Brasil vai descer em grau de qualidade de crédito. Isso é líquido e certo no primeiro semestre do ano que vem”, diz. O problema, ressalta Bilyk, é que há outros países emergentes fazendo mais seriamente o trabalho de casa fiscal do que o Brasil. “Em um momento, o Brasil caiu nas graças do investidor estrangeiro.

    O país se embeveceu com a ideia de estar na moda e acabou perdendo a oportunidade de atrair capital para importantes investimentos, como para a infraestrutura, que estariam agora resolvendo questões de produtividade que nos afligem. Todo investidor estrangeiro fala disso”, conta. Com as contas comprometidas e sem infraestrutura para impulsionar o crescimento econômico, os investidores estão se voltando para outros mercados, concorrentes do Brasil.

    “O México virou um querido”. Para Bilyk, o que salva nosso país é o tamanho de seu mercado, impossível de ser ignorado. “O Brasil é tão grande que as pessoas têm que prestar atenção. Mas a Colômbia é um país muito bom. Pequeno, mas é bom. A Rússia tem contas públicas muito melhores do que as nossas, embora nem tanto em termos institucionais. Mas enquanto estiver entregando resultado, o mercado perdoa”. O executivo também destaca como vantagem brasileira ser uma democracia pujante.

    “O Brasil se propõe a ser uma caixa transparente, de acrílico, que você pode ver o que tem dentro, com um Judiciário, um Legislativo, uma imprensa livre. Isso, para o investidor, como o que está coma gente, que quer tomar posição de 20 anos, é tudo”. Para seus investidores, a Rio Bravo aconselha que se protejam. “O consenso global é que a recuperação da crise de 2008 vai demorar tranquilamente 10 anos, 11 anos, talvez mais. É muita inadimplência para digerir, muita destruição de riqueza”. Em relação ao Brasil, a questão é a campanha eleitoral, que produzirá grande a instabilidade.

    Imóveis podem sofrer com OGX

    O mercado imobiliário carioca, particularmente o de ocupação de imóveis, deverá sofrer coma crise do Grupo X. A previsão é do sócio fundador da Rio Bravo Investimentos, Paulo Bilyk. “O Grupo X contribuiu muito para o volume de ocupação no Rio de Janeiro nos últimos anos e agora essa pressão será afrouxada”. Ele avalia que poucas grandes empresas respondem pela demanda por ocupação de imóveis na cidade. “A Petrobras é a maior delas”, afirma. Esse, segundo o executivo, é apenas um dos setores que devem ser impactados pelas dificuldades das empresas de Eike Batista. “Outros também devem sofrer, como os fornecedores da OGX que deixaram de receber seus pagamentos”.

    Para Bilyk, esses fornecedores se financiaram em bancos, provavelmente de médio porte. “Precisamos saber quem são esses fornecedores e quem são os bancos para calcular a reverberação dessa crise”. Mas ele lembra que por não ser uma instituição financeira, o efeito dominó da crise da OGX não deve ser tão grande. Bilyk percebe um certo alívio no mercado como desfecho da crise da OGX. “Essa era uma situação esperada e a especulação e o desconhecimento é o que há de pior nesses casos”.

     

    Fonte: Brasil Econômico

    Matéria anteriorPara BC, quadro fiscal é ‘desafiador’
    Matéria seguinteIpea propõe nova lei de compras públicas para substituir a 8.666