Copom pode recalibrar ritmo de alta de juros

    Por Eduardo Campos | De Florianópolis

    Hamilton, do BC: antes da reunião de outubro, “o Copom havia sinalizado, havia telegrafado, que não estava confortável com a inflação” e que “agiria, se necessário fosse”

    O diretor de política econômica do Banco CENTRAL (BC), Carlos Hamilton, deixou claro que o Comitê de política monetária (Copom) pode mudar o ritmo de ajuste da taxa Selic, que voltou a subir em outubro, depois cinco meses estável, saindo de 11% para 11,25% ao ano.

    Sem ser questionado, durante a fala de apresentação do Boletim Regional, ontem em Florianópolis, Hamilton disse que o “Copom não será complacente com a inflação e, se necessário for, no momento certo, o Comitê poderá recalibrar sua ação de política monetária de modo a garantir a prevalência de um cenário benigno para a inflação nos próximos anos”.

    Hamilton voltou a repetir essa avaliação na sessão de perguntas e respostas e concluiu o raciocínio com a seguinte frase: “Para bom entendedor, pingo é i”.

    O diretor do BC disse, também durante a apresentação, que era oportuno lembrar que o Copom “sinalizou, por intermédio da última ata, que se manterá especialmente vigilante, dado os elevados níveis de inflação e o balanço de risco menos favorável”. Ele aproveitou ainda a oportunidade para afastar a visão de que o BC não teria comunicado a possibilidade de aperto das condições monetária na reunião de outubro. Na ocasião, o consenso de mercado era de estabilidade do juro básico.

    Segundo Hamilton, “antes da reunião de outubro, o Copom havia sinalizado, havia telegrafado, por assim dizer, que não estava confortável com a inflação e que não seria complacente com a inflação e que também agiria, se necessário fosse, como de fato o fez”.

    O diretor fez uma menção indireta à fala do presidente ALEXANDRE TOMBINI, que no começo de outubro disse que o BC não seria complacente e, se necessário fosse, o BC estaria pronto para agir.

    Da forma que o diretor falou, não resta dúvida sobre o uso do termo “especialmente vigilante” na ata de outubro. A próxima reunião do Copom está prevista para os dias 2 e 3 de dezembro e o mercado futuro de juros embute probabilidade de cerca de 70% de uma alta de meio ponto percentual na Selic.

    Segundo Hamilton, o ajuste de preços relativos – administrados e câmbio – deve manter a inflação ainda “elevada” em 2015. Por outro lado, se esse processo de ajuste arrefecer ou mesmo se esgotar, abre-se um espaço para que a inflação entre em trajetória descendente.

    “É natural que à medida que o tempo avance que esse processo tenda a se esgotar. Quando? Não sei. O processo está em andamento. Mas conforme o tempo passa, mais próximo a gente chega do esgotamento desses processos”, disse.

    Ainda assim, a avaliação oficial do BC não é de inflação na meta, mas sim que “a inflação tende a entrar em trajetória de convergência para a meta” de 4,5% em 2016.

    Sobre câmbio, Hamilton não fez comentários sobre o patamar atual de R$ 2,60. Disse que a taxa é flutuante e que o mercado tem estado mais volátil recentemente. “Então não fazemos projeções para taxa de câmbio. Não sei dizer se vai continuar subindo, se vai cair ou ficar neste patamar.”

    O diretor avaliou que o programa de oferta de swaps cambiais, que está em marcha desde agosto de 2013, tem funcionado bem e dentro do esperado e que deve prosseguir até o fim deste ano. “Nossa avaliação é a de que ele tem ajudado os mercados domésticos a se ajustar ao cenário de transição”, disse.

    Ele complementou que o BC tem reagido de maneira clássica ao aumento de volatilidade visto nos mercados internacionais e domésticos e que essa reação contempla uma condução firme da política monetária e flexibilidade cambial. Ele respondia a uma questão sobre como o BC estava reagindo ao fim da política de compra de ativos pelo Federal Reserve (Fed), Banco CENTRAL americano, e até que ponto o caso de corrupção que atinge a Petrobras também não se apresenta como outra fonte de instabilidade.

    Hamilton repetiu avaliação de que a atividade entra em trajetória de recuperação em 2015 e que a economia brasileira passa por um período de transição que envolve uma moderação no consumo das famílias e do governo e um crescimento dos investimentos.

    Ainda de acordo com Hamilton, embora os níveis de confiança dos agentes econômicos estejam muito baixos, conforme as incertezas forem se resolvendo “é razoável imaginar que esses indicadores de confiança se recuperem e vejamos a recuperação dos investimentos no ano que vem”.

    Sobre política fiscal, a visão continua sendo de variável fiscal caminhando para a neutralidade em 2015. No entanto, há um risco favorável, que é a possibilidade, já vislumbrada por agentes de mercado, de um superávit primário maior no próximo ano. Ainda de acordo com Hamilton, a geração de superávit primário tende a ser menos relevante do ponto de vista do combate da inflação se comparado com a importância do tema para a criação de um ponto de vista positivo para o cenário macroeconômico e consequente redução dos prêmios de risco.

     

    Fonte: Valor Econômico

    Matéria anteriorPrazo para recurso – PLS 121/2009
    Matéria seguinteBC pode intensificar alta dos juros, diz diretor