O Brasil vai precisar duplicar os investimentos em infraestrutura como proporção do Produto Interno Bruto(PIB) nos próximos 20 anos para alcançar um patamar satisfatório em termos de serviços no setor, projetam os economistas Cláudio Frischtak e João Mourão em trabalho realizado sob encomenda do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “Se continuarmos a investir o que viemos fazendo em anos passados, nunca o país irá se aproximar de um estado de modernidade”, disse Frischtak.
Na média anual de 2001 a 2016, o Brasil investiu, em média, 2,03% do PIB em infraestrutura. Para atualizar o setor, será preciso investir 4,15% do PIB, a partir de 2017 e por 20 anos. Dessa forma, o estoque de capital em infraestrutura no país, que em 2016 situou-se em 36,2% do PIB, poderia chegar a 60,4% do PIB. Esse percentual foi considerado como o “estoque alvo” agregado para a modernização da infraestrutura no país. Significa que há um “hiato” de 24,2% do PIB entre o estoque de investimentos em infraestrutura de 2016 e a meta a ser alcançada em 2037.
O estudo é dividido em duas partes: a primeira faz uma estimativa do estoque de capital investido em infraestrutura no Brasil e a segunda parte apresenta uma abordagem setorial. O objetivo foi medir o estoque de capital em infraestrutura no país desde 1970 e analisar a distância que o país ainda tem em relação ao que se pode considerar uma infraestrutura de qualidade, embora ainda não em um grau do que Frischtak chama de “fronteira” (excelência).
No saneamento, por exemplo, a “fronteira” em infraestrutura está no Japão, enquanto nas telecomunicações essa condição é encontrada na Coreia do Sul, comparou. O levantamento considera números do Ipea entre 1970 e 2000 e dados da Inter B., a consultoria do economista, entre 2001 e 2016.
O trabalho levou em conta o estoque de capital em quatro segmentos: transportes, energia, telecomunicações e saneamento. O setor mais distante do estoque-alvo é o de transportes. O setor precisa mais do que duplicar o estoque de capital, o que demandaria triplicar os investimentos feitos nos últimos anos, investindo-se quase 1,29% do PIB a mais do que já se investe para alcançar a meta em 20 anos.
O saneamento demandaria investimentos duas vezes e meia maiores do que a média de 2001 a 2016. Em energia elétrica, haveria necessidade de investir em média 1,05% do PIB ao ano, aumento anual de 0,44 ponto. Em telecomunicações, bastaria expandir a média anual de investimento em 0,14% do PIB, dizem os autores.
“O esforço adicional de no mínimo 2% do PIB será do setor privado, dado o esgotamento fiscal do Estado”, avaliou Frischtak. Ele disse que, para chegar a esse alvo, um novo governo, a partir de 2019, terá que fazer um grande esforço. Disse que uma das medidas importantes, para dar segurança aos investidores, é garantir a independência das agências reguladoras em relação às indicações políticas.
“Não acho que o financiamento seja um problema, dinheiro existe, desde que os projetos de infraestrutura sejam razoavelmente bons. O que é preciso haver é segurança jurídica, previsibilidade regulatória e modelos sustentáveis”, afirmou.
Fonte: VALOR ECONÔMICO