EUA têm 10 dias para solucionar impasse

    Deco Bancillion

    Os Estados Unidos iniciam hoje uma contagem regressiva de 10 dias para tentar evitar que a maior economia do mundo fique sem recursos para pagar os seus credores, tendo que anunciar uma inédita moratória que poderá levar todo o planeta para uma nova crise de proporções devastadoras. Caso republicanos e democratas não cheguem a um acordo para elevar o teto do endividamento do país, o calote poderá ocorrer já no próximo dia 17. Essa é a data em que Tesouro ficará sem condições de pagar alguns dos principais financiadores do governo norte-americano, entre os quais bancos, empresas multinacionais e governos como o do Brasil, o terceiro maior detentor individual desses papéis.

    As tensões aumentaram ontem, após representantes do governo Barack Obama e do oposicionista Partido Republicano terem dado declarações que pouco contribuíram para reduzir o temor de um calote dos EUA. Em uma entrevista ao canal de notícias CNN, o secretário do Tesouro do país, Jacob Lew, disse que o Congresso “brinca com o fogo” ao não aprovar logo um aumento no teto da dívida de US$ 16,7 trilhões. “Se não o fizerem, teremos muito pouco tempo. A partir do dia 17, não poderemos mais pedir emprestado”, diz.

    Lew comentou que a possibilidade de um calote é algo que nunca aconteceu aos EUA e citou que o impasse político é “muito perigoso” para o país. “É irresponsável, porque a realidade é que não há opção se não podemos pedir emprestado e ficamos sem liquidez. Isso significaria que, pela primeira vez, desde 1789, os Estados Unidos deixariam de pagar as suas contas por causa de uma decisão política”, critica.

    Horas depois foi a vez do presidente da Câmara dos Deputados, o republicano John Boehner, dizer em entrevista que o partido não concorda “de jeito nenhum” com uma medida para elevar o teto da dívida sem que haja uma “conversa séria” que envolve a aprovação de medidas adicionais para conter o deficit público. Entre essas restrições estariam cortes de despesas por parte do governo e o adiamento do programa de reforma no sistema de saúde, batizado de Obamacare. Em entrevista à rede de TV ABC, Boehner ressaltou: “Eu disse ao presidente (Obama) que de jeito nenhum nós vamos aprovar (o aumento do endividamento)”.

    Racha

    Enquanto republicanos e democratas ainda parecem distantes de um consenso, o mundo observa com cautela os próximos passos do Congresso norte-americano. A aposta é que, quando o tempo estiver se esgotando, um acordo “razoável” deverá ser feito entre as duas partes. “Não acredito em chances reais de um calote, porque, se chegar na hora H e não tiver um acordo, haverá um racha no Partido Republicano”, disse ao Correio Tony Volpon, diretor executivo e chefe de Pesquisas para Mercados Emergentes das Américas da Nomura Securities International, em Nova York.

    A economista Zeina Latif, sócia da Gibraltar Consulting e doutora em política monetária pela Universidade de São Paulo (USP), atribui o impasse justamente ao toma lá dá cá político norte-americano. “A controvérsia sobre o aumento ou não do teto da dívida chegou a um ponto tão extremo que já não se trata mais de uma discussão econômica, e, sim, sobre uma chantagem entre Executivo e Legislativo. Isso, na verdade, mostra como o jogo político norte-americano empobreceu e está cada vez mais parecido com o nosso, no Brasil”, analisou.

    Jankiel Santos, economista-chefe do banco português BES Investimento, avalia que, independentemente do desfecho, o fato de os EUA estarem no sexto dia de paralisação já causa estragos sérios. “Esse é um problema que pode colocar o país em xeque, o que vai fazer com que ele também tenha uma desaceleração econômica neste ano.”

     

    Fonte: Correio Braziliense

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