Favorecer poupadores é um equívoco, diz Bresser-Pereira

    Por Aline Oyamada | De São Paulo

    Se o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir pela correção dos rendimentos das cadernetas de poupança nos planos econômicos de estabilização Bresser, Verão, Collor 1 e Collor 2 com índices maiores que os aplicados na época, estará cometendo um grande equívoco, na opinião de Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro da Fazenda e idealizador do plano Bresser.

    De acordo com o economista, as correções monetárias no rendimento dos depósitos em poupança foram feitas de forma correta e não prejudicaram os poupadores. “Os poupadores não tiveram prejuízo nenhum”, disse ele. “Esse é um equívoco que está sendo praticado.”

    Se os poupadores saírem vitoriosos, o prejuízo para a economia do país será relevante na opinião de Bresser-Pereira. “Será um impacto muito grande e negativo. Os bancos não tiveram lucros extraordinários nos anos que fizeram isso e agora terão um prejuízo absurdo”, disse ele. O ministério da Fazenda estima que o impacto no setor bancário pode chegar a R$ 150 bilhões, mas segundo cálculos da consultoria econômica LCA os bancos podem ter que pagar até R$ 600 bilhões aos poupadores.

    O ex-ministro não arriscou um palpite sobre qual será a decisão do STF, no julgamento que começa amanhã, mas ressaltou que os bancos não estão defendendo seus interesses da melhor forma. “Os bancos não souberam se defender nas instâncias intermediárias. Não chamaram economistas competentes para defender seus interesses”, disse ele. Na sua opinião, além de provarem que seus lucros não aumentaram no período dos planos econômicos, as instituições financeiras também deveriam se focar em outros aspectos. “É verdade que os bancos não lucraram. Mas é preciso mostrar o decreto, como foi feita a correção e explicar mais detalhadamente tudo isso”, disse ele.

    Bresser-Pereira explica que é preciso compreender o que foi a inflação inercial para entender o modelo de correção das cadernetas de poupança. “Não foi por acaso que todos os planos tiveram a determinação de que no mês do congelamento houvesse uma redução da correção monetária”, afirmou. “Se não houvesse esse dispositivo de reduzir a correção do mês seguinte ao congelamento, haveria um ganho excepcional para os poupadores, o que era totalmente contra a lógica da neutralização da inércia [inflacionária]. O que se buscava com a neutralização da inércia era justamente que ninguém ganhasse e ninguém perdesse no dia do congelamento”, explicou.

    O plano Bresser instituiu, em 1987, o congelamento dos preços e salários para combater os altíssimos níveis de inflação. Os preços foram contidos por um curto período, mas o plano não livrou o Brasil de vivenciar a hiperinflação nos anos seguintes.

     

    Fonte: Valor Econômico

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