Incertezas crescem e dólar bate em R$ 2,30

    Investidores veem quadro político complicado. Preço da divisa cede no fim dos negócios

    Logo que surgiu a possibilidade de o presidenciável Eduardo Campos (PSB) estar a bordo do avião que caiu em Santos na manhã de ontem, o mercado financeiro entrou em parafuso. A confirmação da morte do candidato, por volta das 12h30, fortaleceu um clima de incertezas no cenário político, o que refletiu imediatamente na postura dos investidores. Em um dos dias mais nervosos do ano, a Bolsa despencou e o dólar, após oscilar bastante e novamente encostar nos R$ 2,30, fechou praticamente estável ante o real, valendo R$ 2,278.

    Ainda no susto da notícia do acidente, o mercado voltou a sinalizar que não gosta da ideia de continuidade da atual política econômica. Desde a divulgação das primeiras pesquisas com intenção de voto, está claro que os investidores andam bastante sensíveis em relação às eleições de outubro, uma vez que o resultado das urnas definirá os rumos da economia do país. Especula-se no mercado que, se a vice na chapa do PSB, Marina Silva, assumir o lugar de Eduardo na disputa, poderá tornar o pleito mais concorrido e imprevisível.

    O pernambucano Eduardo Campos, governador do estado por duas vezes, poderia representar uma “virada de mesa” na eleição deste ano, na opinião do gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo. A reação instantânea do mercado à inesperada morte do político era inevitável, acrescenta o analista. “Ele era o terceiro colocado nas pesquisas, mas, mesmo sendo desconhecido para muitos, exercia influência no jogo político. Sem Eduardo, as incertezas se

    intensificam, e o mercado logo percebeu isso”, argumenta.

     

    Reflexos

    A última vez que o mercado financeiro esteve tão atrelado ao mundo político, avalia Galhardo, foi em 2005, quando estourou o escândalo do mensalão. “Há tempos, não via os investidores tão reféns dos movimentos na política. Se isso está ocorrendo de forma racional ou não, não sei. Mas é um fato”, reforça. O mercado, lembra ele, já andava tenso diante do cenário internacional. O Banco CENTRAL, inclusive, reforçou as chamadas rolagens de swap cambial para tentar conter a alta do dólar. Ontem, a autoridade monetária deu continuidade ao programa de intervenções diárias.

    Embora em uma escala menor do que nas eleições de 2002, a Bolsa e o câmbio têm refletido o que os investidores esperam da política macroeconômica, diz o professor da Universidade de São Paulo (USP) Simão Davi Silber. “A terceira via sumiu. Começa uma nova eleição que ninguém sabe no que vai dar. Qualquer que seja a decisão do comando da campanha de Eduardo Campos, a morte dele traz ainda mais dúvidas em um momento que já não era o dos mais claros”, sustenta.

    Há 12 anos, quando da primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, o dólar chegou a bater R$ 4 no dia em que uma pesquisa colocou o petista à frente nas intenções de voto. “A volatilidade tende a aumentar. Com esse episódio, o mercado deu mais um recado de que está completamente inseguro”, comenta Thiago Guedes, sócio da DXI Planejamento Financeiro, apostando que as próximas pesquisas exercerão um impacto ainda maior no mercado.

    Na sessão de ontem, apesar dos picos com a confirmação da morte de Eduardo Campos, o dólar só não se manteve em níveis mais elevados porque o resultado fraco das vendas no varejo dos Estados Unidos, em julho, sugeriram que os juros norte-americanos não subirão a curto prazo. Além disso, diminuíram as preocupações geopolíticas com a Ucrânia e o Iraque.

    Entre uma análise e outra, integrantes do mercado financeiro passaram o dia perplexos com a morte do candidato do PSB. O economista Paulo Rabello de Castro, coordenador do Movimento Brasil Eficiente, lamentou a tragédia. “Ele buscava um governo mais eficiente, que não sobrecarregasse o setor privado”, defendeu, lembrando que o político deixou como legado a sugestão de criação do Conselho Nacional de Responsabilidade Fiscal.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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