IPCA-15 contido abre porta para novos cortes da Selic

    Os preços de alimentos e de serviços surpreenderam positivamente em novembro, fazendo a prévia da inflação oficial ficar abaixo do piso das expectativas de analistas do mercado. O resultado deixa a porta aberta, segundo economistas, para um possível corte adicional da Taxa Básica de Juros pelo Banco Central no início do próximo ano.

    Conforme divulgou ontem o IBGE, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) desacelerou para 0,32% em novembro, de 0,36% do mês anterior. Analistas consultados pelo Valor Data previam aceleração para a 0,40%, com projeções desde 0,35% a 0,46%. O IPCA-15 passou a acumular 2,58% em 11 meses, a menor variação para período desde 1998 (1,52%).

    Principal responsável pelo ciclo desinflacionário neste ano, o grupo de alimentação e bebidas, responsável por um terço da cesta de consumo das famílias, teve queda de 0,25%. Foi o sexto mês seguido de deflação. Os analistas esperavam uma baixa menor, considerando que a época sazonalmente é menos favorável para alimentos.

    Apesar disso, foi a queda dos preços de serviços que mais chamaram atenção. O indicador subjacente da inflação de serviços – que exclui itens relacionados a turismo, serviços domésticos, cursos e comunicação – avançou 0,04% em novembro, frente a prévia de outubro. Desta forma, a taxa em 12 meses recuou de 4,1% para 3,6%.

    “São números bastante favoráveis e que mostram que a inflação segue em terreno benigno. O resultado pavimenta a ideia de que o Banco Central não vai fechar a porta para um possível corte da Selic em fevereiro, embora o mercado permanece bastante dividido sobre isso”, disse Flavio Serrano, economista senior do banco Haitong.

    Além da inflação subjacente de serviços, outro indicador sensível para a política monetária mostrou comportamento favorável no IPCA-15 de novembro. A média das três medidas – mais utilizadas, que expurga impactos de itens mais voláteis – desacelerou de 0,34% para 0,23% de outubro para novembro pela prévia da inflação oficial.

    Após a divulgação do IPCA-15, consultorias e bancos divulgaram revisões de suas projeções para a inflação no ano. A MCM Consultores revisou seu cenário do IPCA “cheio” de novembro (de 0,40% para 0,35%) e também do ano (de 3,1% para 3%). O Itaú Unibanco revisou para baixa suas previsões para a inflação oficial de novembro (de 0,50% para 0,38%).

    Para Rodrigo Alves de Melo, economista-chefe da Icatu Vanguarda, o cenário de inflação permite ao Banco Central cortar em 0,5 ponto percentual a Selic na reunião de 5 e 6 de dezembro, para 7% ao ano. Em fevereiro do ano que vem, ele espera um corte adicional de 0,25 ponto percentual na taxa, que seguiria inalterada até o fim de 2018.

    “Com a inflação rodando em patamar confortável por um bom tempo, a ociosidade relativamente alta na economia, o BC não deve ter dor de cabeça por um bom tempo. O cenário está benigno para o BC continuar cortando Juros“, disse Melo.

    O Goldman Sachs prevê redução de 0,50 ponto percentual da Selic em dezembro, para 7% ao ano. O cenário do banco prevê a taxa estável nesse patamar ao longo do ano que vem. Alberto Ramos, economista do banco, não descarta completamente, contudo, que o Banco Central possa tomar medidas adicionais ao longo do ano que vem.

    “Embora não faça parte de nosso cenário-base, não descartamos cortes adicionais modestos da taxa no primeiro trimestre de 2018 (entre 0,25 e 0,50 ponto percentual se a inflação voltar surpreender para baixo e o ritmo de recuperação cíclica pare ou decepcione”, avaliou o economista, no relatório.

    Na passagem mensal, a maior pressão individual sobre o IPCA-15 veio da energia elétrica. A conta de luz ficou 4,42% mais cara com o segundo patamar da bandeira tarifária vermelha a R$ 5,00 a cada 100 kWh (quilowatts-hora) consumidos. Sozinho, o item impactou em 0,16 ponto percentual a prévia da inflação. Também pesaram administrados como gás de botijão (3,30%) e combustíveis (1,69%).

    Fonte: VALOR ECONÔMICO

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