Titular da Fazenda anuncia medidas para 2015 a empresários mesmo já tendo sido descartado para o posto em um próximo mandato de Dilma Rousseff
No entanto, para a maioria dos especialistas, é difícil para Mantega restaurar a confiança na economia. “Ele é um ex-ministro em atividade. Além disso, o histórico de Mantega também é ruim porque ele vai entregar o país com uma das piores taxas de crescimento da história, e a inflação só não está maior por conta dos preços administrados, que ainda não sofreram reajuste”, comentou o economista e consultor Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco CENTRAL. “A única coisa positiva é que Mantega não estará mais na equipe econômica num eventual segundo mandato. Mas tudo pode piorar se entrar alguém como o Arno (Augustin, secretário do Tesouro Nacional)”, emendou.
Na avaliação do economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, Mantega está no papel de tentar ajudar o governo a permanecer no poder. “Neste momento, há um esforço conjunto para anunciar qualquer medida disponível para agrada ao setor privado. Mas não dá para achar que isso possa mudar a relação a essa altura da eleição”, destacou. “Uma derrota da Dilma também não deixa de ser uma derrota para a política econômica que Mantega propôs. Por mais que possa ser estranho ele se manter dessa forma como ministro, o que está em jogo é a reputação dele depois de mais de oito anos na Fazenda. O problema, novamente, é que não há mais tempo para mudar essa imagem”, completou.
Medidas
Mantega informou aos empresários que o Reintegra voltará ao que era antes no próximo ano. O programa, criado em 2011, dava um crédito tributário para os exportadores de 3% do valor das vendas lá fora como forma de compensar os impostos indiretos da cadeia produtiva mas que foi interrompido no ano passado e restaurado neste, entretanto, com alíquota menor, de 0,3%. “Definimos que, para o ano de 2015, a alíquota de crédito será de 3% sobre o valor faturado pela empresa nas exportações do setor manufatureiro, porque o setor de commodities vai muito bem e não precisa desse crédito, disse Mantega, após o encontro organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) na capital paulista. A renúncia fiscal do governo com essa medida está calculado em R$ 3 bilhões, segundo a Fazenda.
O ministro também anunciou que o governo vai estender para todas as multinacionais brasileiras um crédito presumido de 9% no imposto devido sobre o lucro obtido no exterior. O benefício, instaurado pela Lei n° 12.973 valia apenas para os setores de bebidas, de alimentos, de construção e de obras de infraestrutura. O créditoa começa a vigorar em outubro.
As duas medidas foram bem recebidas pelos empresários, de acordo com o economista Flávio Castelo Branco, gerente executivo de Política Econômica da CNI. “Elas fazem parte do conjunto de demandas da indústria. Mas, sozinhas, não são suficientes para recuperar a confiança do empresário para que ele volte a investir no país”, destacou.
» Números díspares
O presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Benjamin Steinbruch, pediu ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, em evento na Fundação Getulio Vargas, “a convergência de números”, já que segundo ele, os que são apresentados pelo governo e por economistas não refletem a situação real da economia. Segundo Steinbruch, ele se sente angustiado com a perspectiva de recessão, desemprego e falta de investimento no país. “A realidade do dia a dia da produção e do emprego (é divergente da dos números apresentados) e isso nos causa uma tremenda agonia e nos faz mais pessimistas”, afirmou.
Fonte: Correio Braziliense