Uma eventual mudança na meta de Déficit primário, atualmente fixada em R$ 139 bilhões para o governo central em 2017, não é um fator determinante para a condução da política monetária e nem deve mudar a trajetória de queda da inflação nos próximos anos. O aceno foi dado pelo presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, que em entrevista ontem à rádio “Jovem Pan” afirmou que, o que importa em termos de condução da política monetária, é que as contas públicas estejam em ordem no médio e longo prazos.
“Não temos comentado sobre as questões de curtíssimo prazo. Temos nos concentrados na ideia de que as contas públicas têm que estar em ordem no médio e longo prazos. E isso tem relação com os ajustes fiscais e com as reformas. Tudo isso junto faz um cenário mais ou menos forte para a economia brasileira e, com isso, o BC pode chegar mais longe na queda de Juros ou não”, disse.
Perguntado se não teriam forças opostas em atuação, já que a inflação e expectativas caem, mas o fiscal não mostra melhora, o presidente disse que a inflação, hoje, já está correndo em patamar mais baixo. “Estamos falando de inflação que este ano está um pouco abaixo de 4%, para o fim do ano que vem sobe um pouquinho. Não vejo risco em continuar esse processo de queda da inflação nos próximos anos”, disse.
Tanto nessa entrevista quanto em discurso a investidores, feito no fim da tarde, Ilan reforçou a mensagem já transmitida na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), de que a manutenção do ritmo de corte da Selic, em um ponto percentual, no encontro de 6 setembro do colegiado, dependerá da permanência das condições do cenário básico do Banco Central e de estimativas da extensão do ciclo.
“O ritmo de flexibilização continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, de possíveis reavaliações da estimativa da extensão do ciclo e das projeções e expectativas de inflação”, disse.
Ilan também aproveitou esse discurso para rebater a crítica contumaz de que a queda da inflação não teria relação com a política monetária, mas sim seria fenômeno exclusivo da forte recessão que assolou o país nos últimos dois anos e do acentuado aumento do desemprego.
“A queda da inflação recente tem vários motivos, inclusive a ociosidade dos fatores. Mas é interessante observar que, apesar de a recessão ter se iniciado há mais de dois anos, a inflação resistiu à queda até o terceiro trimestre do ano passado”, disse.
O presidente explicou que a resistência da inflação decorreu de uma postura defensiva dos agentes econômicos em um ambiente dominado pela incerteza, no qual evita-se baixar os preços devido ao risco de os custos subirem mais rápido e levarem a prejuízos.
Fonte: VALOR ECONÔMICO