Mercado abandona aposta em Selic menor

    Antonio Perez | De São Paulo

    Os investidores não apenas abandonaram de vez qualquer aposta em redução da taxa Selic neste ano como voltaram a trabalhar com a hipótese de um ciclo de aperto monetário em 2015. As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) dispararam na semana passada e passaram a embutir a perspectiva de alta de 1,1 ponto percentual da Selic no ano que vem. Está praticamente desenhado na curva a termo (formada pelas diferentes taxas) um ciclo de aperto com três elevações da Selic em 0,25 ponto percentual no primeiro semestre de 2015.

    Na semana iniciada em 20 de julho, no auge das especulações em torno de um desaperto monetário, os juros futuros refletiram cerca de 30% de chances de um corte da Selic neste ano e uma alta de apenas 0,60 ponto em 2015. Na prática, não se via mais a possibilidade de um aperto.

    De lá para cá, ruiu a tese de que a fraqueza da atividade econômica levaria o Banco CENTRAL (BC) a dar uma guinada. O primeiro abalo foi provado pela ata do Comitê de política monetária (Copom), divulgada no dia 16 de julho. O BC deixou claro que o uso da expressão “neste momento” no comunicado de sua decisão, em 16 de julho, de manter a taxa Selic em 11% ao ano, não era um sinal de uma eventual alteração de rota.

    Parte dos investidores continuava a sustentar, contudo, que o BC, premido pela desaceleração da economia, poderia flexibilizar a política monetária. Essa perspectiva foi reforçada pelo relaxamento das medidas macroprudenciais no dia seguinte à divulgação da ata. Ao tentar dar fôlego ao crédito, o BC teria revelado, para alguns analistas, preocupação com o ritmo de atividade.

    O desaquecimento da economia – cujo símbolo seria a divulgação, no fim de agosto, da retração do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre -, o arrefecimento da inflação no curto prazo e a manutenção do dólar perto de R$ 2,20 abririam espaço para o afrouxamento.

    Essa tese perdeu força ao longo da semana passada com a alta do dólar, em meio a dados mais fortes da economia dos EUA. Contribuiu para a guinada no mercado de juros futuros a piora dos indicadores fiscais, revelada pelo déficit primário de R$ 2,1 bilhões do setor público consolidado em junho. Os dados reforçaram a leitura de analistas de que a política fiscal é expansionista. “Pela primeira vez em muitos anos, a política fiscal segue caminho diverso da política monetária“, afirma Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, ressaltando que, no passado, havia uma elevação concomitante da Selic e do superávit primário.

    O fim das apostas de queda da Selic neste ano e a consolidação da perspectiva de um ciclo de aperto em 2015 ocorreu no pregão sexta-feira. Mesmo com a queda do dólar e do retorno dos títulos do Tesouro americano (Treasuries), os juros futuros avançaram na BM&F, na esteira das declarações do diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do BC, Luiz Awazu, ao Valor PRO (leia acima), serviço de informações em tempo real do Valor.

    Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Liam Gonçalves, embora as estimativas para a inflação estejam se ajustando para baixo no curto prazo por conta da desaceleração da atividade, o IPCA continua em níveis elevados e deve fechar o ano em 6,5%. Gonçalves acredita que será necessária uma nova rodada de alta da Selic, dadas as incertezas que rondam 2015, como a trajetória da taxa de câmbio e os preços dos combustíveis. Ele prevê uma elevação da Selic em 0,25 ponto percentual em dezembro, para 11,25%, e uma rodada de aperto de 1,25 ponto em 2015, o que levaria a taxa básica para 12,50%.

     

    Fonte: Valor Econômico

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