Para FHC, momento é semelhante ao de 94

    Por Luciano Máximo, Flavia Lima, Thais Folego e Raquel Ulhôa | De São Paulo e Brasília

    O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse ontem, em São Paulo, durante evento sobre os 20 anos do Plano Real, que o Brasil passa por momento político semelhante ao do lançamento da nova moeda. Segundo FHC, a sociedade brasileira espera por “mudanças profundas” que, para se concretizarem atualmente, é preciso que o debate político não se reduza a “nós e eles”.

    “É um momento de mudança. As manifestações de junho são um fenômeno curioso, não são contra A, B ou C. É um mal-estar. Houve muitas melhoras, mas precisamos dar um salto da quantidade para qualidade. (…) Para isso, o Brasil precisa se reengatar com um mundo pós-crise, de liderança – não de uma pessoa, mas de uma confluência de visões, acabando com a disputa entre nós e eles”, discursou o ex-presidente no evento, organizado pelo Instituto FHC.

    O encontro teve a participação de economistas que formularam o Plano Real, entre eles Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda, e os ex-presidentes do Banco Central Armínio Fraga, Gustavo Loyola e Gustavo Franco.

    O ex-presidente tucano falou sobre a derrota do governo no Congresso, com a criação de uma comissão parlamentar para investigar a Petrobras. Segundo FHC, foi um sinal da relação de cooptação do Planalto sobre o Legislativo. “Não é um relacionamento marcado por projetos e programas políticos focados no Brasil, o governo só oferecendo espaço dentro do governo para sua base. A derrota de ontem mostrou que esse cansaço da sociedade [expressado nas manifestações de junho de 2013] refletiu no Congresso.”

    Em Brasília, o senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB e pré-candidato à Presidência, afirmou ontem que a crise entre a presidente Dilma Rousseff e setores de sua base aliada “é consequência de um governo autoritário, que não quer aliados, quer vassalos”. Para o tucano, ao enfrentar essa rebelião de aliados no Congresso, especialmente do PMDB, o governo está “pagando o preço pela arrogância e pela ineficiência”.

    Aécio negou a intenção de cooptar pemedebistas para sua campanha presidencial, mas afirmou estar recebendo “sinais de companheiros do PMDB” e considerou “natural” a aproximação dos dois partidos. “O PSDB nasceu de uma costela do PMDB. Quanto mais o PT faz valer o seu projeto hegemônico, que não busca aliados, mas apoiadores, é natural que em função das realidades locais haja uma aproximação. Isso não é estratégia do PSDB, é algo natural”, afirmou Aécio a jornalistas.

    O senador disse acreditar que, quando as propostas do PSDB para o governo forem tornadas públicas e tiverem mais espaço para divulgação, uma parcela do PMDB e de outros partidos que têm “identidade” com o projeto dos tucanos se aproximará de sua candidatura. “Recebo sinais porque tenho amizade com companheiros do PMDB do país inteiro, mas eu não busco uma cooptação. Eu acredito nas coisas naturais na política”, disse.

    Aécio voltou a dizer que existem “dois Brasis”, um virtual, da propaganda oficial, e outro real, “em que a presidente da República foge do povo, como fugiu no Carnaval e pretende aparecer camuflada nos jogos da Copa do Mundo”. Esses dois Brasis, argumentou, serão confrontados durante a campanha eleitoral. “A agenda do governo é única e exclusivamente eleitoral. É um final triste de um governo que perdeu a capacidade de ousar e se transformar”, criticou.

    A reforma ministerial, segundo o senador, está sendo realizada sob a lógica da reeleição de Dilma. Para Aécio, o governo tem “o maior e mais medíocre ministério da história republicana do Brasil” e ninguém sabe o nome de ministro da Saúde, da Educação e de outras áreas. “Reforma é para melhorar, dar melhores condições. Esse governo é reformado para atender o apetite eleitoral do governo.”

    Ontem, o senador Paulo Bauer (PSDB-SC) anunciou da tribuna que ele e o líder da bancada tucana, Aloysio Nunes (SP), vão apresentar requerimento na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional para que senadores participem da comissão aprovada na Câmara para ir à Holanda investigar a Petrobras. A criação do colegiado resultou da insatisfação do PMDB e demais partidos governistas com o Executivo, o chamado blocão.

    Para o ex-senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), uma das lideranças tucanas que integram o time da pré-campanha de Aécio, a crise enfrentada pelo governo federal, no diálogo com sua base aliada, e pelo PT, na interlocução com o governo e na formação de alianças regionais com o PMDB, abre “caminho importante para a oposição na corrida eleitoral”.

    “Às vésperas das últimas duas campanhas presidenciais o PSDB estava truncado, enfrentava problemas internos. Hoje estamos mais bem encaminhados, e o PT não consegue lidar com a radicalização de sua base. Isso pode ser muito bom não só para o Aécio, mas para a oposição como um todo”, afirmou Tasso.

     

    Fonte: Valor Econômico

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