Para profissionais do mercado, carestia dos preços pesou mais do que diminuição da atividade econômica
Liana Verdini
Marcelo Loureiro
Na queda de braço entre inflação e atividade econômica, o Banco Central parece ter optado pelo combate à carestia ao decidir promover o oitavo aumento consecutivo da taxa Selic no período de 10 meses. Desde outubro de 2010, a inflação medida pelo IPCA ultrapassa os 5%ao ano, exceto nos meses de maio e junho de 2012. Mas o BC só iniciou o atual ciclo de alta dos juros em abril do ano passado.
“A ata desta reunião, que deve sair na próxima semana, na quinta- feira, 6 de março, nos ajudará a entender como o equilíbrio entre crescimento e inflação está sendo interpretado pelo Banco Central.
E isso será fundamental para determinar se os planos são parar em 11% ou seguir em frente”, disse Marcelo Salomon, do Barclays, em um relatório. “Mas, ao praticamente reproduzir a mesma mensagem de janeiro, o BC sinaliza que planeja aumentar pelo menos mais 25 pontos-base em abril. Por isso, estamos revendo nossa previsão final para a taxa Selic neste ciclo de aperto para 11%, adicionando um aumento de 25 pontos-base para a reunião do Copom de 2 de abril”.
“O comunicado deixa as portas abertas para novas elevações de juros à frente. De fato, apesar da melhora recente, o cenário externo segue incerto e pode afetar a dinâmica da taxa de câmbio nos próximos meses. E a inflação ao consumidor ainda se mostra pressionada”, avaliou Ilan Goldfjan, economista-chefe do Banco Itaú.
“Desta forma, esperamos ainda uma última elevação de 0,25 p.p.
em abril pelo Copom, para assegurar a estabilidade (ou queda)da inflação.
Acreditamos que a Selic se manterá em 11% a.a. até o final de 2014. Em 2015 entendemos que o Copom verá a necessidade de um ajuste adicional,que leve a taxa para 12% a.a.”.
A avaliação de que a inflação é o alvo da preocupação do BC nesse ciclo de alta também é percebida pela economista Monica de Bolle, sócia-diretorada Galanto Consultoria.
“A decisão mostrou que não há descontrole inflacionário; o que tem é inflação alta, já que a meta de 4,5% está fora do radar há muito tempo”, afirmou ela,para quemo BC deixou aberta a possibilidade demais um aumento na próxima reunião. “Energia elétrica, combustíveis e alimentos devem pressionar ainda mais a inflação nos próximos meses, levando o indicador a encostar no teto da meta de 6,5%”, analisou Monica.
Concorda com ela o consultor e ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman, que também enxerga pressões mais fortes sobre a inflação esse ano. Os preços administrados, segundo Schwartsman, serão corrigidos em 3,5%, bem acima do 1,5% do reajuste do ano passado. “Ainda há a questão da energia elétrica, que só poderá ser dimensionada após o período de chuvas”.Mesmo com todo esse cenário de pressão, o consultor não se surpreendeu como aumento de apenas 0,25 ponto percentual.
“A decisão referendou o que acho: o BC é frouxo no controle inflacionário”.
Mas a equipe de economistas do Bradesco avalia que a política monetária ainda não gerou todo seu impacto na economia. “Tendo em vista o tamanho total do ajuste implementado desde abril de 2013 (3,5 p.p.), seus efeitos defasados e o consequente enfraquecimento do nível de atividade econômica, a inflação não deverá encontrar condições para apresentar aceleração além da sua rigidez conhecida”, avalia a equipe do Bradesco.
“Entendemos que o Banco Central, ao reduzir o ritmo de alta da Selic para 0,25 p.p., sinalizou para o fim do atual ciclo de ajuste da política monetária”.
Nesse clima, o mercado de juros futuros da BM&F passou por pequenos ajustes ontem e as taxas dos DIs mais curtos caíram moderadamente.
Fonte: Brasil Econômico