Selic ficará estável em 2014

    Anbima prevê que taxa de juros, que subiu ontem para 9,5% em reunião do Copom, fecha o ano a 9,75%

    Ivone Portes

    Os economistas das principais instituições financeiras do país projetam estabilidade para a taxa básica de juros, a Selic, no próximo ano. A expectativa é de que chegue ao final de 2014 em 9,75% ao ano, ou seja, mesmo patamar que deverá encerrar 2013, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). A taxa básica começou o ano em 7,25% e passou a subir em maio.

    Ontem, atingiu 9,5% ao ano, com o anúncio de aumento de 0,5 ponto percentual feito ao fim da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Marcelo Carvalho, presidente do Comitê de Acompanhamento Macroeconômico da Anbima, diz que a maioria das previsões aponta para uma Selic estável ao longo de 2014, mas que há uma grande dispersão das projeções sinalizando dúvidas quanto à condução da política monetária no médio prazo. “Para o final do ano que vem, por exemplo, há projeções de 9,50%, que envolve a expectativa de interrupção da alta dos juros a partir da reunião de novembro próximo, até 11,50%, o que indica aumento da taxa”, disse.

    Segundo Carvalho, entre os economistas do Comitê que dizem acreditar que o governo utilizará menos a política de juros para atingir a meta de inflação, o argumento é de que a autoridade monetária terá uma postura de cautela, ao menos até que o Federal Reserve (Fed, BC dos Estados Unidos) inicie o processo de redução de estímulos à economia norte-americana por meio da compra de ativos. O entendimento, segundo Carvalho, é de que a “ decorrente mudança no patamar de juros no mercado norte-americano deverá provocar um realinhamento das taxas de juros e câmbio nos mercados emergentes, entre os quais o brasileiro”.

    Na avaliação dos economistas do Comitê da Anbima, a decisão do Fed de não reduzir os estímulos pode ser considerada um adiamento. A expectativa é de que nos próximos meses esse processo seja efetivado. “Isso deverá ocorrer no fim deste ano ou no início de 2014, o que trouxe um alívio ao mercado, tanto que a previsão para o câmbio para o final de 2013 recuou de R$ 2,35 para R$ 2,30”, afirmou Carvalho. Para os economistas do Comitê, a normalização da política monetária dos EUA no curto e médio prazo, com as taxas dos títulos do Tesouro norte-americano retornando para níveis anteriores ao da crise, deverá ocorrer gradualmente de forma a não comprometer o endividamento dos agentes, principalmente relacionado ao setor imobiliário.

    Já os economistas que projetam continuidade do ciclo de aumentos da Selic apontam a política de crédito dos bancos públicos brasileiros no últimos anos, que vêm limitando o alcance da política monetária do Banco Central e vai demandar taxas de juros nominais mais altas para a “reancoragem” das expectativas inflacionárias. “Há clara expansão do crédito na economia e uma divergência entre a taxa de crescimento dos bancos públicos e dos privados.

    Daí o debate de qual seria a taxa de juro necessária para atingir a meta da política monetária. Quanto mais expansionista for o crédito, mais se exige da política monetária”, disse Carvalho. Segundo dados do Banco Central, o crédito ofertado por bancos públicos aumentou 15,2% este ano, até agosto, contra crescimento de apenas 2,9% das instituições privadas. Essa injeção de recursos na economia acaba estimulando também o consumo e, consequentemente, o índice de preços.

    Embora o risco de a inflação ultrapassar o teto da meta, estipulada em 6,5% pelo governo, seja considerado residual pelo Comitê da Anbima (5%), 19% das projeções ainda apostam em uma taxa acima de 6%, o que sinaliza a pouca margem de manobra da equipe econômica na condução do sistema de metas para o último trimestre do ano. Mantendo a expectativa de agosto último, a percepção da maioria dos economistas (67%) quanto ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta para variação entre 5,80% e 6,10%. Para o fim de 2014, as projeções são de inflação de 5,96%.

    Outro fator que pode mostrar diferença entre os caminhos do BC e do governo é o atraso dos reajustes de preços administrados, como gasolina e tarifas de transporte público, segundo Carvalho. “Obviamente os preços administrados não estão sob o controle do Banco Central. E o que a autoridade monetária tem de fazer é olhar o aumento do índice de inflação cheio. De uma alta de 6% no IPCA, a maior pressão vem dos preços livres, com aumento na casa dos 8%, enquanto os preços administrados subiram só cerca de 1%.”

     

    Fonte: Brasil Econômico

    Matéria anteriorObama indica Janet Yellen para presidir Fed
    Matéria seguinte‘NYT’: Dilma precisa fazer a reforma política