Selic vai a 10,75%, maior nível em três anos

    Por Eduardo Campos, Alex Ribeiro e Antonio Perez | De Brasília e São Paulo

    Em linha com o que previa a maioria dos economistas privados e os operadores do mercado financeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentou o juro básico em 0,25 ponto percentual, de 10,5% ao ano para 10,75% ao ano. Assim, a chamada taxa Selic retorna ao percentual dos primeiros dias de mandato da presidente Dilma Rousseff, que assumiu em janeiro de 2011.

    No comunicado divulgado após a decisão, o colegiado presidido por Alexandre Tombini, diz que: “Dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa básica de juros, iniciado na reunião de abril de 2013, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic em 0,25 ponto, para 10,75% ao ano, sem viés”.

    A diferença para o comunicado anterior foi a suspensão do termo “neste momento”, que foi utilizado em janeiro, quando o BC subiu a taxa em 0,50 ponto percentual. O texto deixou margem para interpretações de prolongamento do ciclo de aperto em passos de 0,25 ponto percentual, ou mesmo o fim do ciclo.

    Essa foi a leitura do economista José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. Ao tirar a expressão “neste momento”, o Copom “dá ideia de que a decisão é algo menos relacionada a um momento específico. Ao manter o ‘dando prosseguimento’, embora não garanta nova alta, o Copom deixa essa possibilidade em aberto”, diz.

    Já o economista-chefe do Banco J.Safra, Carlos Kawall, depreendeu que o ciclo de aperto monetário não apenas continua como não parece próximo do fim. “Ao retirar a expressão ‘neste momento’ do comunicado, o Copom quis mostrar que o ciclo não terminou e que haverá continuidade dentro de uma nova realidade, com altas de 0,25 ponto”, afirma Kawall, que previa uma elevação de 0,5 ponto, para 11% ao ano. “O ciclo de aperto seria mais curto se o BC tivesse preferido subir 0,5 ponto agora. Mas o Copom preferiu adotar uma alta mais branda e, ao mesmo tempo, sinalizar continuidade.”

    Na reunião anterior, de janeiro, o BC não havia assumido compromisso explícito sobre futuros movimentos na Selic, nem de duração desde ciclo de aperto monetário. O comunicado divulgado na ocasião dizia que, “neste momento”, o Copom estava subindo os juros em “meio ponto percentual”. Duas claras indicações da pontualidade da decisão.

    Pesquisa feita pelo Valor PRO , serviço em tempo real do Valor, na semana passada apontou que 31 dos 43 economistas consultados, pouco mais de 70% da amostra, esperavam uma elevação de 0,25 ponto na reunião de ontem. Para 12 entrevistados, a alta seria de 0,50 ponto.

    Para o economista-chefe da INVX Global, Eduardo Velho, três pontos sustentam a decisão de reduzir o ritmo de ajuste. O primeiro deles, o comportamento das expectativas com relação à atividade, que sofreram uma onda de revisões para baixo nas últimas semanas. “Essa revisões surpreenderam o BC e o mercado e ajudam a alargar o hiato do produto. Com isso deve ter acontecido uma redução, na margem, na projeção de inflação do BC”, diz. Outro fator importante, cita, vem dos Estados Unidos, onde se consolidou a certeza de que a taxa de juros por lá não sobe tão cedo. Em janeiro, lembra Velho, essa certeza não existia. O terceiro fator, a seu ver, diz respeito ao comportamento do dólar que se afastou de cotações superiores a R$ 2,40, nas últimas semanas.

    As expectativas do mercado oscilaram bastante desde o começo do ano. Primeiro, em meio a um ambiente de forte aversão a risco, alguns países emergentes, como a Turquia, foram obrigados a subir fortemente os juros, o que levou setores do mercado a considerar a hipótese de o BC brasileiro seguir o caminho do choque monetário.

    Os mercados chegaram a incorporar nos preços o risco de uma alta de até 0,75 ponto percentual nesta reunião, além de um ciclo de aperto mais prolongado. Os receios foram esvaziados pelo diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, em conversa com analistas. O arrefecimento da aversão a risco também contribuiu para essa hipótese ser descartada pelos mercados.

    Mais recentemente, o mercado passou a considerar que o BC poderia desacelerar o ritmo de alta de juros e até indicar o seu fim, diante da desaceleração da atividade, de alguns dados de inflação melhores e do anúncio de uma meta fiscal bem recebida pelos investidores.

    Também contribuíram para essas apostas declarações do presidente Alexandre Tombini reiterando que a política monetária tem efeito defasado e de que o aperto promovido pelo Copom desde abril do ano passado já mostra alguns resultados.

    Um ponto que levava alguns economistas a ainda prever uma alta de 0,5 ponto percentual é o fato de que, até o momento, ainda não se enxerga convergência da inflação para a meta de 4,5%. As expectativas de inflação para 2014, na verdade, voltaram a subir na última semana, passando de 5,93% para 6%, mesmo com a queda acentuada nos prognósticos de crescimento, inflação corrente um pouco menos pressionada e indicações do governo de que perseguirá uma política fiscal neutra do ponto de vista inflacionário.

     

    Fonte: Valor Econômico

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