Tombini assume tom eleitoral

    DECO BANCILLON

    A exemplo do que fizeram outros ministros do governo Dilma Rousseff, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, decidiu encampar o discurso eleitoreiro do Palácio do Planalto, de olho das disputas de 2014, e se posicionar contra o “pessimismo exagerado” dos “agentes econômicos” — uma alusão à falta de confiança das famílias e dos empresários na retomada “gradual” do crescimento do país.

    Em um tom acima do usual, Tombini assegurou, em depoimento ontem a parlamentares da Comissão Mista de Orçamento (CMO) da Câmara dos Deputados que, em nenhum momento, o país viveu uma situação de descontrole inflacionário, apesar de, em 2013, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estar insistentemente acima de 6%, quando deveria ficar próximo de 4,5%. “Há alguns meses, havia uma ideia de descontrole. Parecia que o Brasil estava à beira da hiperinflação, quando (na verdade) não estava”, afirmou. De qualquer forma, deixou claro que os juros, que estão em 9% ao ano, vão subir mais.

    O presidente do BC ressaltou que o excesso de pessimismo é prejudicial à retomada do crescimento do país porque o clima psicológico produz efeitos reais de depressão no Produto Interno Bruto (PIB). “Em alguns momentos, essa ideia de que haveria um descontrole (inflacionário) acabou afetando o imaginário das pessoas. A mesma coisa (aconteceu) com o câmbio. As pessoas começam a agir com base nessa percepção (de que a situação está pior do que a realidade), e isso acaba afetando a economia real”, disse.

    A mesma avaliação foi feita para o crescimento interno, que, no entender de Tombini, foi subestimado. “A percepção de muitos agentes econômicos estava e ainda está, ao meu ver, mais pessimista do que mostram os números.” Ele citou como exemplo a alta de 1,5% do PIB no segundo trimestre do ano, que, a taxas anualizadas, equivale a uma expansão de 6,1%. “Nós estivemos (nesse período) no topo do crescimento mundial do G20 (grupo das 20 economias mais ricas). Então, de fato, os dados da primeira metade do ano de 2013 eram bem superiores à percepção de que as coisas não estavam funcionando”, rebateu.

    Por cerca de duas horas e meia Tombini foi indagado sobre diversos temas espinhosos ao BC, entre os quais, além da inflação, os efeitos que a disparada do dólar ante o real podem provocar sobre o custo de vida. Ele ressaltou que o pacote de US$ 100 bilhões lançado pelo BC em agosto para conter essa alta está dando resultados e corrigindo as distorções do mercado — o real já se valorizou 8% desde a intervenção da autoridade monetária em agosto.

    Rombo externo
    Lembrou que a instituição tem à disposição, caso necessite, US$ 374 bilhões em reservas internacionais, colchão de liquidez que permite ao BC, “nesse período de transição” pelo qual passa o mundo, “ofertar proteção aos agentes econômicos e liquidez ao mercado de câmbio”. Em outras palavras, ainda que haja uma fuga de recursos para os Estados Unidos, a partir do ano que vem, não faltará dólar às empresas e aos investidores que queiram ficar no Brasil. “Nossa estratégia é clara: utilizaremos nosso amplo rol de instrumentos para conduzir o Brasil nessa transição entre o mundo atual e o mundo à frente”, ponderou.

    Tombini também foi questionado sobre o crescente deficit nas transações externas do país, que, até julho, chegou a 3,4% do PIB. Para ele, apesar de mais alto, o rombo está em “níveis manejáveis”. Não é o que pensam, porém, analistas de mercado e investidores estrangeiros, que colocaram o Brasil no grupo de cinco nações consideradas frágeis, os Fragile Five, que inclui Índia, Turquia, Indonésia e África do Sul.

    Ao avaliar a economia brasileira, o presidente do BC foi mais otimista. Ele citou como sinais de melhora o crescimento “sustentável” da oferta de crédito, a retomada “gradual” da indústria e a maior cotação do dólar, que terá efeitos positivos sobre os produtos brasileiros exportados. Para Tombini, o patamar de câmbio hoje é mais “favorável” à produção doméstica.

    Um alerta, porém, foi feito. Mesmo com condições melhores para a retomada do crescimento, o país só deverá registrar taxas maiores de expansão caso o otimismo no Brasil seja recobrado, o que depende, disse Tombini, também do governo, em especial do Ministério da Fazenda, que anda gastando além da conta e pressionando a inflação. “Olhando à frente, a consolidação do crescimento, em bases sustentáveis, depende do fortalecimento da confiança das famílias e empresários”, disse.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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