Tombini vê pessimismo sobre o PIB

    Por Alex Ribeiro e Eduardo Campos | De Brasília

    O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, combateu, em depoimento no Senado, as visões pessimistas de economistas do setor privado sobre a retomada da atividade econômica não apenas no curto prazo, mas também sobre a capacidade de crescimento do Brasil em prazos mais longos, que está ligada à evolução do Produto Interno Bruto (PIB) potencial.

    Ele também assegurou que vai manter o programa de leilões cambiais de US$ 55 bilhões, anunciado em fins de agosto, a despeito da melhora de humor dos mercados depois que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) indicou que não vai reduzir já os estímulos monetários extraordinários à economia dos Estados Unidos. Para Tombini, houve apenas um adiamento nos planos do Fed. Ele indicou que, se necessário, o BC pode ir além do programa já anunciado.

    “As condições de oferta e demanda presentes na economia não apoiam uma visão pessimista da economia brasileira, quer para o momento atual quer para os próximos anos”, afirmou o presidente do Banco Central, em depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

    Na semana passada, em outro pronunciamento no Congresso, ele já tinha criticado “a percepção mais pessimista que a realidade dos números, dos agentes econômicos”, sobre a evolução da economia no curto prazo. Agora, repetiu o mesmo discurso da semana passada, agregando sua visão sobre a perspectiva de crescimento de médio e de longo prazo, tanto do ponto de vista da oferta quanto da demanda.

    Com isso, indicou que o Banco Central tem uma opinião mais positiva do que a média do mercado sobre o PIB potencial, que é a capacidade de a economia crescer sem pressionar a inflação, embora não tenha mencionado explicitamente o indicador.

    A visão do BC sobre o PIB potencial tem implicações para a condução da política monetária. Em tese, quanto menor a capacidade de crescimento da economia, mais a autoridade monetária tem que desacelerar a atividade econômica, por meio da alta de juros, para fazer a inflação convergir para as metas.

    Há pouco mais de um ano, os analistas econômicos projetavam crescimento na ordem de 4% de 2013 a 2017, de acordo com a pesquisa de expectativas de mercado do Banco Central, conhecida como boletim Focus. Agora, a projeção mediana dos economistas é uma expansão do PIB de 2,4% em 2013; de 2,22% em 2014; de 2,5% em 2015; de 3% em 2015; e de 3,1% em 2017.

    As perspectivas mais negativas para a expansão do PIB não se resumem aos prazos mais curtos, quando a evolução da economia está ligada a fatores cíclicos, mas a um horizonte de prazo mais longo, que se aproxima da tendência de crescimento representada pelo chamado PIB potencial. Alguns economistas chegam a apontar o PIB potencial em 2% ou menos.

    O BC não abre explicitamente em quanto calcula o PIB potencial, mas indicações de seus dirigentes apontam que são maiores do que isso. Em fins de abril, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton de Araújo, disse num evento que, “de modo geral, pode-se afirmar que uma demanda crescendo sistematicamente muito acima de 3,1% ao ano tenderia a gerar pressões inflacionárias”.

    Mas Hamilton fez uma ponderação: “Há exceções. No médio e longo prazo, um cenário em que essa regra geral não se aplicaria contempla crescimento moderado do consumo e forte recuperação dos investimentos, tendo como contrapartida a absorção de poupança externa.”

    No seu depoimento, Tombini voltou a frisar, como havia feito na semana passada, que a composição do crescimento é mais favorável, com ritmo mais forte dos investimentos, que se expandem pelo terceiro trimestre consecutivo, e mais moderado nos consumo. Ele também assinalou que a redução nas tarifas de energia elétrica, a desoneração da folha de pagamentos e o programa de infraestrutura tendem a contribuir com a melhora da capacidade de oferta da economia.

    Na CAE, Tombini reafirmou um cenário relativamente otimista para a inflação. “Embora ainda se encontre em patamares desconfortáveis, a inflação acumulada em 12 meses já retomou a tendência de declínio, após alcançar o pico em junho deste ano”, afirmou.

     

    Fonte: Valor Econômico

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