Uma “estratégia” cambial

    Embora o comportamento da taxa de câmbio, com o dólar em queda livre na comparação com o real, aponte entrada franca de dólares no mercado doméstico neste início de setembro, em agosto a movimentação de bancos pesou na contabilidade de saída de divisas do país. O déficit na contratação de câmbio para meses foi de quase US$ 6 bilhões, puxado pela conta financeira responsável por uma baixa de aproximadamente US$ 4 bilhões. Os dados foram divulgados pelo Banco Central (BC) na semana passada e refletiram sobretudo o interesse das instituições em quitar empréstimos externos tomados em meados de 2011 para enquadrar posições vendidas em câmbio a novas regras da autoridade monetária. As operações foram feitas com prazo igual ou superior a dois anos para evitar o recolhimento de IOF incidente, na época, sobre empréstimos de prazos inferiores a 24 meses. Essa é a versão do mercado. Para o Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central  não é bem assim.

    Os bancos estariam, na leitura do SINAL, forçando artificialmente uma alta maior do câmbio. “As remessas ao exterior têm o objetivo de reduzir a oferta de dólar no mercado interno, agregando mais um ingrediente para a desvalorização do real e o aumento da inflação, ao mesmo tempo que especulam com a alta da taxa de juros se posicionando na bolsa de futuros”, diz o presidente do SINAL, Daro Piffer, ao Casa das Caldeiras. 

    As remessas de dólares correspondem a uma estratégia para pressionar o BC a elevar a taxa Selic para até 10,50% ao ano [hoje a Selic está em 9% ao ano]. Na avaliação dos servidores filiados ao SINAL, assim os bancos também  forçariam a elevação do juro real de cerca de 1,5% para patamares próximos de 4% de um ano atrás. “Dessa forma, os bancos angariariam grandes lucros na bolsa ao passo que boa parte de seus ativos, aquela composta de títulos públicos, se valorizaria”, diz o Sindicato que afirma ser atribuição do BC “tomar precauções para não cair nesse maniqueísmo”, pois aumentar o juro é ceder à pressão do mercado.

     

    Fonte: Valor Econômico

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