Edição 97 - 18/11/2019

A VOLTA DOS “ESCRAVOS DA NAÇÃO”


Muita gente não sabe, mas no período da escravidão havia escravos que pertenciam ao Estado, que se distinguiam como escravos públicos e que durante o Brasil colonial eram chamados de “escravos do Real Fisco” ou “escravos do Fisco” e no Império ficaram conhecidos como “escravos nacionais” ou “escravos da nação”.

O que mais chama a atenção é que parte deles recebia remuneração por seu trabalho, e alguns ainda tinham acesso à escola de primeiras letras (provavelmente também deviam ser rotulados como “privilegiados”).

Os escravos foram incorporados ao patrimônio imperial depois do confisco dos bens dos jesuítas pela Coroa portuguesa, em 1760, e continuaram presentes por mais de um século, até que a escassez de “voluntários da pátria” fez com que fossem praticamente todos usados como “bucha de canhão” na Guerra do Paraguai.

A PEC emergencial apresentada pelo governo reintroduz a figura de servidores públicos que não têm direitos ou garantias quanto ao seu salário ou seu local de trabalho. A hedionda campanha de desumanização dos servidores públicos civis, realizada inicialmente pelo governo Temer e agora redobrada pelo atual governo, quer fazer parecer normal um chefe de família ter seu salário reduzido em 25% por anos a fio.

O que torna ainda mais revoltante estas medidas autoritárias é a manipulação política utilizada pelos que se beneficiaram continuamente com este estado de coisas por décadas. A inconsequência fiscal dos poderes da República quer cobrar dos Servidores o preço pelo descalabro das contas públicas que eles mesmos provocaram.

Na verdade, sabemos bem, nem todos pagarão. Desde a reforma da previdência ficou claro que existem aqueles aos quais não serão cobrados quaisquer “cotas de sacrifício”; pelo contrário, enquanto se mantiverem fiéis ao governo, serão tratados como “amigos do rei” e nada lhes acontecerá.

Penduricalhos que distorcem o padrão de remuneração de certas categorias há muito poderiam ter sido objeto de retificação pelo executivo, mas aí sempre prevaleceram os interesses fisiológicos: Não se mexe hoje com quem pode te ajudar amanhã.

As medidas de Paulo Guedes não escondem o seu desprezo pela atividade pública em si. Não se está fazendo uma reforma administrativa, ou seja, mudanças que melhorem o serviço público prestado à população; pelo contrário, é a sua simples e direta marginalização. O ministro certamente preferiria ter uma “Guerra do Paraguai” para solucionar os seus problemas conosco.

Quanto aos Servidores do Banco Central, para aqueles que ainda não descobriram, cabe a dura realidade: Nós não seremos tratados como “amigos do rei”, seremos tratados como todos os outros “escravos da nação”.

A luta no Congresso Nacional está apenas começando e o Sinal já está se posicionando.

Esperemos que aqueles que temem paralisar para não perder temporariamente um dia de trabalho percebam agora que ficar sem 25% do seu salário será uma alternativa muito mais amarga. 

Diga pelo que você quer lutar!

LUTE JUNTO COM O SINAL!

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