Edição 034 - 02/05/2017

Foi bonita a festa!

A luta pela defesa dos interesses dos que não detém o controle dos meios de produção e/ou de significativos montantes em ativos financeiros não é fácil em nenhum lugar do mundo. No Brasil, as dificuldades enfrentadas são ainda maiores, não apenas porque falta formação política à nossa população, para não falar da formação educacional tradicional, como também pela coesão com que os detentores do poder econômico defendem e ampliam seus ganhos e controle sobre a sociedade.

Os exemplos da manifestação desse poder estão em nosso dia a dia. Podemos observá-los desde a relutância de grandes empresas, financeiras ou do setor real, em pagar impostos e multas, passando pela pressão que fazem por perdões e refinanciamentos desses passivos, e chegando a manutenção de taxas de juros reais em benefício dos detentores do capital financeiro. Juros que não encontram, nem mesmo entre economistas mais ortodoxos, explicação minimamente aceitável.

Esse jogo é difícil para a sociedade mais organizada que, através de sindicatos, associações de classe, movimentos sociais de diversas naturezas, entre outros, busca se contrapor a avanços além do correntemente aceitos em nosso país. País onde ainda se discute a precária punibilidade do trabalho escravo.

Nesse contexto, o movimento paradista do dia 28 de abril tem tudo para ser lembrado por muitos anos e, a depender da evolução da retirada de direito dos trabalhadores no Congresso Nacional, se repetir com força ainda maior em breve.

As reformas trabalhista e previdenciária, postas por um governo de natureza interina, sem respaldo direto das urnas, surgem como uma oportunidade excepcional, que os detentores do poder econômico não querem deixar passar.

A nossa luta é justa e necessária. A hipocrisia com que os meios de comunicação tradicionais, que também fazem parte do conjunto desses detentores do poder econômico no Brasil, passam da necessidade dos tais ajustes seria risível, se não fosse trágica. Quem a percebe, sente-se muitas vezes incapaz de lutar contra as mentiras e preconceitos postos por esses mensageiros interessados, mas a boa luta é feita coletivamente.

O dia 28 de abril mostrou que juntos somos fortes e podemos virar esse jogo, jogo em que as regras são mudadas ao sabor da vontade de poucos privilegiados.

A festa foi bonita nesse 28 de abril. O cheirinho de alecrim parece ter chegado ao outro lado do Atlântico. Antes tarde do que nunca.

Juntos somos fortes! (cada vez mais!)


Sobre a repressão:
depoimento de um dos filiados do SINAL

Sobre o dia da Greve Geral

Ontem à tarde, dia da greve geral, me dirigi junto com colegas do banco e funcionários do SINAL-RJ para a concentração da manifestação contra as reformas trabalhista e previdenciária. Em frente à Alerj, esquina com a rua da Assembléia, ficamos aguardando a passeata se iniciar rumo à Cinelândia. O ambiente era de seriedade e apreensão, dado o movimento gravíssimo que vivemos de ataque constante aos direitos sociais conquistados ao longo de décadas, mas ao mesmo de certa alegria pela convicção de estarmos participando diretamente de um momento tão importante da história recente do país. Encontramos vários colegas e amigos de outras entidades, envolvidas na mesma luta. O ambiente era pacífico e de confraternização. Por volta de 15:30hs, se inicia a passeata rumo à Cinelândia, ponto de aglutinação dos protestos no Rio. Nada indicava o que estava prestes a ocorrer. Quando de repente, um pouco mais de estoura a primeira bomba e logo em seguida, a segunda, terceira, quarta… Do nada, absolutamente do nada! Com isso, ainda na rua 1ª de Março próximo ao Paço Imperial, começa o desespero das pessoas em busca de abrigo das bombas lançadas pelo batalhão de choque da PM. Sim, foi o Choque que iniciou. Não acreditem em outra versão, por favor. Estávamos lá. Entramos na rua de sete de Setembro, na expectativa de reagrupamento da passeata em algum ponto, mesmo com a continuidade das bombas. Boa parte do nosso grupo já tinha sido dispersada e não estava junto com a gente. Saímos em direção à Rio Branco, quando vimos o blindado de jato de água e o Caveirão. Por isso, resolvemos não seguir para Cinelândia pela av. Rio Branco. Voltamos para rua do Ouvidor, para pegar a rua Gonçalves Dias. Nosso pressentimento estava correto uma vez que novas bombas começaram a ser lançadas nas pessoas que se dirigiam à Cinelândia pela Rio Branco, bem próximo à estação Carioca. Na rua paralela, tivemos que nos abrigar numa lanchonete bem próxima a Confeitaria Colombo. O cheiro das bombas era insuportável provocando náuseas e vermelhidão nos olhos de quem estivesse por perto. Esperamos a situação se acalmar por um tempo. Abrigamos até um casal de italianos idosos que tinham acabado de chegar ao Rio de Janeiro que queriam ir para Ipanema. Quando saímos em direção ao metrô da Carioca, novas bombas, correria e desespero de quem passava ou tentava chegar ao ato. Eles não queriam que chegássemos a Cinelândia.

Tentamos por diversas vezes chegar à Cinelândia na esperança vã de continuidade do nosso direito democrático de manifestar a nossa insatisfação contras as reformas do governo Temer, mesmo nesse clima de guerra. Mas não foi possível.
O processo de dispersão do Choque continuou e as bombas continuaram a cair… Obviamente, formaram-se reações de pequena parte dos manifestantes ao massacre e acabou por virar um confronto mesmo que totalmente desproporcional. Desde o início, estranhávamos o aparato de “segurança” desproporcional para a manifestação. Mas não imaginávamos nem em nossos piores pesadelos o que iria acontecer. Posso dizer que nos meus anos de militância e participação na vida política, e que não são poucos, eu NUNCA vi tamanho ato de violência estatal indiscriminada contra uma manifestação livre e democrática. Isso não pode ficar sem consequências e responsabilização.

Minha breve avaliação sobre isso. Foi encomendado. Por quem? Por algum dos diversos setores, capitaneado pelos governos do Pezão e de Temer, interessados que essas reformas avancem. O batalhão de choque da PM foi um mero instrumento para dispersão. O Estado terrorista. Não interessava ver uma Avenida Rio Branco tomada de gente de ponta a ponta e uma Cinelândia com uma multidão há muito tempo não vista. Certamente seria capa dos principais jornais do país, mesmo que a contragosto. Ao invés disso, temos manchetes de supostos confrontos e criminalização dos protestos. O que de fato não ocorreu foi isso, por favor acreditem em outra versão. O objetivo era acabar com o ato.

“Algumas imagens valem mais que mil palavras

Vejam esses vídeos abaixo:

vídeo 1: do Choque dispersando/atacando os manifestantes na altura do CCBB.

vídeo 2: Jogaram bombas até no palco montado na Cinelândia, inclusive atingindo um deputado.

Por favor, divulguem e não deixem que mentiras se propaguem.

 

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