Não dá mais para abafar
Foi assim desde 1500. Uns poucos apadrinhados dos donos do poder dividindo o butim, fosse em governos gerais ou capitanias hereditárias.
Temos vinte anos de uma “democracia” instalada, duramente conquistada depois de outros vinte de ditadura militar. Esperava-se, portanto (ingenuamente?), coisa melhor na condução do país por um governo “do povo”.
As declarações de Roberto Jefferson, apesar de teatralmente “vestidas para matar” em sua eloqüência e gestos, ainda conseguem espantar o país. Depois de tantos e tantos escândalos, dos tantos governos que na capital federal se têm instalado, a indignação é grande.
Na Brasília sem esquinas, os parlamentares locais talvez não possam entender a dimensão do estrago. Isolados numa corte, com mordomias palacianas oficiais (“e extras”), o povo já lhes é figura distante. Até as cidades no entorno da capital do Brasil são “satélites”. Não à toa.
No entanto, pelo Brasil onde há botecos, jornaleiros e esquinas, o assunto desta manhã é a suposta podridão do parlamento nacional. E o clamor, ainda surdo, por uma apuração rigorosa de fatos (supostos mas não improváveis) que colocam em xeque, mais uma vez, a direção do país, não tardará.
O Presidente do Supremo, Nelson Jobim, declarou que confia nas instituições democráticas e no Parlamento para deslindar a crise.
Espera-se que restem dos escombros representantes decentes que possam fazê-lo. Porque, a esta altura, restaurar a confiança do povo é fundamental.