Edição 0 - 28/04/2003

DE GOVERNO, POVO, DIREITOS ….

A op‡Æo preferencial do governo Lula pela pobreza nÆo pode
nem deve usurpar direitos de outros, que nÆo sÆo culpados pela fome cinco vezes
centen ria dos desamparados deste pa¡s. Nem deveria o titular do governo citar
Cristo como exemplo de sacrif¡cio. Existem outras religiäes – e seus praticantes
– entre as v¡timas da reforma da Previdˆncia.

Frei Betto, te¢logo e conselheiro ¡ntimo do Presidente, deve
saber que, por exemplo, entre os judeus, paga prometida ‚ paga feita no momento
da promessa. Porque, quando algu‚m promete, hoje, o pagamento pelo trabalho
humano, nesse mesmo e exato instante a paga deixa de pertencer a quem prometeu,
porque o homem vai trabalhar com a expectativa de receber o que foi tratado.
A paga ‚ dele
, a partir do trato.

Descumprir esse preceito – sonegar-lhe o tratado durante sua
vigˆncia – humilha, avilta, apequena o ser humano. Porque ele se percebe como um
n£mero, destitu¡do de sentimentos e desprovido de um m¡nimo de controle sobre
sua pr¢pria vida.

Porque homens sonham, fazem planos, projetam para o futuro.
Porque sÆo homens, nÆo postes. E todos somos: os pobres do Fome Zero
tamb‚m. Sonham, querem, tˆm planos. NÆo mais, nÆo menos, que os servidores
p£blicos. NÆo se pode ‚ tirar de uns e dar aos outros, porque o dinheiro e a
carreira dos funcion rios p£blicos nÆo foram roubados, nÆo sÆo ilegais, nÆo sÆo
imorais.

SÆo preceituados e regulados pelo Estado: os funcion rios s¢
se submetem a ele por op‡Æo. E ‚ assim que funciona: o governo paga X
para eu trabalhar Y dentro de certas normas. Pt sauda‡äes. Como ‚ que se
quebra assim unilateralmente um contrato a dois?

Imoral ‚ o governo vir tirar covardemente dos servidores
p£blicos, que nÆo tˆm a menor possibilidade de evitar isso porque "entrar nos
contra-cheques" ‚ a coisa mais f cil para o governo, para reduzir falaciosamente
uma "desigualdade social" secular, mormente usando o discurso difamat¢rio e
mentiroso de serem os servidores p£blicos uns "privilegiados". Fizemos
concursos, abdicamos de certas vantagens de outras profissäes esperando uma
contrapartida que tinha na seguran‡a da aposentadoria sua melhor expressÆo.

Brechas na legisla‡Æo vieram, ao longo do tempo, promovendo
umas tantas aposentadorias, essas sim, privilegiadas. SÆo poucas e ainda existem
porque nenhum governo teve coragem, at‚ aqui, de limitar seu teto geral. E seus
titulares podem ser facilmente identificados, tamb‚m via contra-cheques. 
imoral o governo estender o conceito dessas poucas aposentadorias milion rias
aos demais funcion rios, via campanha na m¡dia.

Al‚m do mais, nÆo veio do sol ou da seca o tisnado que marca
nos rostos nordestinos o sofrimento e a ang£stia que estampam. Foi a inclemˆncia
dos politiqueiros que desviaram torrentes de recursos de quantas SUDENEs e
SUDAMs foram criadas ao longo de d‚cadas e muitos governos. Politiqueiros esses
aos quais temos de nos sujeitar, pois alguns continuam no poder, agora pregando
pela cartilha "reformadora" da Previdˆncia Social.

Que v  o governo atr s desses (e de tantos mais) desvios de
dinheiro p£blico, deixando assim de desviar sua pr¢pria conduta, tirando de quem
nÆo tem nada a ver com isso para dar aos mais desvalidos, implodindo direitos
adquiridos e expectativas de direito que nÆo sÆo inven‡äes recentes do Estado,
mas preceitos milenares quanto … dignidade do homem, e estabelecidos nos mais
antigos c¢digos de conduta moral do mundo, como a Tor  dos judeus.

Edições Anteriores RSS
Matéria anteriorUma nota da chefia do Mecir
Matéria seguinte“TOMA-LÁ-DÁ-CÁ”, OU … ONDE FOI QUE EU JÁ VI ISSO ANTES?