Governo insiste em desconto salarial, mesmo impondo prejuízo à sociedade
A reunião ocorrida ontem no Ministério do Planejamento pode ser considerada, sem nenhum exagero, uma peça de ficção, dadas as circunstâncias em que ocorreu. Em alguns momentos, os representantes do funcionalismo do Bacen não acreditavam no que viam e ouviam, dada a falta de sintonia entre o que era dito pelos negociadores do Planalto e a sua real intenção.
O chefe da delegação palaciana abriu a reunião falando em "buscar um acordo". Atravessou a reunião repetindo essa expressão diversas vezes, como se esse fato conferisse alguma autenticidade à sua afirmação.
Foram ouvidas frases como "… queremos que o movimento dos funcionários do Bacen seja vitorioso…", ou ainda "… o governo não deseja punir...", sempre complementadas com afirmações do tipo "… não aceitaremos nenhuma proposta que não inclua o desconto …".
Esse é o acordo que o Governo nos está propondo: aquele que a corda faz com o pescoço do enforcado. Como se pode propor acordo a partir do estabelecimento de pré-condições que quebram prerrogativas históricas dos trabalhadores? O que o governo quer não é acordo, mas capitulação do funcionalismo. Isso, ele não terá.
Nem mesmo alertada, pelos representantes sindicais, sobre o prejuízo imposto à sociedade – na medida em que o Governo, ao perpetrar o desconto salarial, estará determinando também a não reposição do trabalho atrasado -, a bancada ministerial se sensibilizou. Nem quando o representante do Bacen confirmou que o funcionalismo agiu com responsabilidade, durante a greve e depois dela.
Enfim, como já se esperava, o Secretário Duvanier afirmou não se haver baseado em critérios técnicos para elaborar sua proposta. Trata-se, assim, de uma negociação política, na expectativa de que a proposta governamental seja levada às assembléias.
O Secretário chegou a ameaçar que, não havendo entendimento, o governo fará a sua parte, arbitrando um número de dias a ser descontado. Como, sendo parte de um impasse, alguém pode arvorar-se como árbitro dele?
De nossa parte, nada se altera. O funcionalismo será informado das reais intenções do Governo e deliberará com soberania sobre aceitar ou não essa proposta de desconto – como, aliás, já o fez em mais de uma ocasião.
Não nos venham falar em desconto salarial, pois o que queremos "ouvir" é a devolução dos dias descontados, e isso não é acordo, é direito nosso.
E, quanto à sua afirmação de que "deseja que o movimento dos funcionários do Bacen seja vitorioso...", não se preocupe, Sr. Secretário. Para nós, vitória não significa apenas um bom acordo financeiro, mas, antes de tudo, a preservação da nossa honra.
E isso, definitivamente, não está em negociação.