Edição 0 - 04/04/2012

Qualidade de Vida no Trabalho: Nova Moda ou Novo Modo de Gestão Empresarial?

 

 

 

Ano I – Número 2 – 4.4.2012

Prezad@ colega,

Bom dia.

Solicitamos a gentileza da leitura do texto abaixo, que aborda alguns dos principais fundamentos da proposta hoje adotada pelo Sinal de busca de ampliação da Qualidade de Vida noTrabalho da totalidade da Comunidade BCB.

Boa leitura!

(Manifestações, de qualquer natureza, quanto ao texto – críticas, sugestões etc. – serão muito bem-vindas. Caso você tenha interesse em fazê-las, por favor clique aqui ).    
 

Qualidade de Vida no Trabalho:
Nova Moda ou Novo Modo de
Gestão Empresarial?

 

“É a QVT compensatória, que tão-somente prepara o trabalhador para o cumprimento de um novo ciclo de trabalho no qual ele irá defrontar-se com as mesmas condições que produziram a busca de compensação”.

“É a QVT preventiva, que busca o casamento entre produtividade e bem-estar, que se expressa por verbalizações do tipo: ‘Hoje trabalhei bastante. Estou me sentindo cansado, mas feliz".

Leia, a seguir, a íntegra do artigo:

Toda pessoa que, hoje em dia, trabalha, sabe que, de tempos em tempos, tem novidade no mundo do trabalho. Círculos de Controle de Qualidade, gestão just-in-time, reengenharia são alguns dos nomes de modas em Administração de Empresas que, no tempo recente, estiveram entre nós. Tem quem ache – e é gente de peso – que há uma necessidade de, de tempos em tempos, nomear-se ou renomear-se experiências ou experimentos de gestão corporativa, em um movimento que teria como lógica essencial o mudar para manter. Vale dizer, haveria muito mais novas modas do que novos modos de gestão organizacional e do trabalho.

Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) tanto pode ser uma nova moda quanto um novo modo de gestão.

É uma nova moda, atualmente em voga, quando se encontra inteiramente circunscrita à dimensão da reposição das forças objetivas e subjetivas de quem trabalha. É a QVT compensatória, que tão-somente prepara o trabalhador para o cumprimento de um novo ciclo de trabalho no qual ele irá defrontar-se com as mesmas condições que produziram a busca de compensação. Atividades de relaxamento, de combate ao estresse, de lazer – como, por exemplo, a prática de ioga, massagem, dança de salão – localizam-se nesse terreno. É pertinente assinalar que tais atividades, assim como um expressivo conjunto de alternativas hoje oferecidas pelas organizações a quem nelas trabalha, são todas muito bem-vindas, representando um avanço importante nas relações empresa – empregado. O problema reside, então, no fato de essa iniciativa não vir acompanhada de ações que modifiquem positivamente a realidade de trabalho. QVT neste viés é de natureza paliativa, pois trata o desgaste do trabalhador como aquela velinha de aniversário que a gente apaga e, em seguida, ela reacende.

Por outro lado, QVT é também um novo modo de gestão do trabalho, hoje ainda pouco praticado, quando altera, de forma positiva, as condições, a organização e as relações socioprofissionais de trabalho. É a QVT preventiva, que busca o casamento entre produtividade e bem-estar, que se expressa por verbalizações do tipo: “Hoje trabalhei bastante. Estou me sentindo cansado, mas feliz”. Nesse enfoque, a necessidade de atividades do tipo antiestresse, típicas da QVT paliativa, tende a ser residual e assume um caráter secundário em um Programa de Qualidade de Vida no Trabalho (PQVT).

Implantar um PQVT de feição preventiva requer planejar ações em diferentes campos. Uma nascente abordagem, a Ergonomia da Qualidade de Vida no Trabalho (EQVT), com base em estudos e intervenções nas organizações, tem indicado duas dimensões estratégicas. A primeira situa-se na esfera da transformação positiva da cultura organizacional, ou seja, é primordial uma reciclagem de valores e crenças, hoje centrados quase que exclusivamente na produtividade e no desempenho dos trabalhadores. Nesse caso, a comunicação organizacional tem papel de destaque. A segunda dimensão diz respeito às mudanças nas condições (ex.: posto de trabalho), na organização (ex.: regras, rotinas, procedimentos) e nas relações socioprofissionais de trabalho (ex.: interações hierárquicas).

Nesse contexto, é imperativo resgatar o paradigma da participação efetiva dos trabalhadores na vida das organizações. A participação não pode e não deve ser estratégia de sedução para a melhoria de performances e, consequentemente, aumento da produtividade. Ela precisa ser um valor que permeia a cultura organizacional e estrutura práticas de trabalho e gerenciais. Ela é efetiva quando de fato distribui o poder e cada trabalhador pode opinar, planejar, executar, avaliar e replanejar as tarefas, os objetivos organizacionais. Dois ingredientes são inerentes ao pressuposto da participação como requisito de QVT preventiva: autonomia responsável e liberdade de criação.

Aprimorar, na direção da melhoria efetiva da QVT de quem trabalha, revela-se, assim, não apenas uma nova moda, mas um novo modo de gestão do trabalho. Suprimir ou, ao menos, diminuir a distância presentemente existente entre tais nova moda e novo modo, deve ser um compromisso das instituições socialmente responsáveis, de todos aqueles que, dia após dia, nelas trabalham.

José Vieira Leite.
Diretor de Qualidade de Vida no Trabalho (SINAL), Pesquisador (Ergo-Public-UnB), Pós-doutor em Ciências Humanas (PUC-Rio).

Esta matéria é uma contribuição do Grupo QVT – SINAL-RJ.

 

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