Edição 156 – 2/10/2015

Teremos réveillon?


A 90 dias do final de 2015 e a pauta de outubro envolve em primeiro plano os mesmos temas: corrupção e ajuste fiscal.

Em meio a uma crise política sem precedentes, a economia não promete melhoria até o Natal. Nesta quinta-feira, 1º, anunciou-se que o comércio não planeja, por enquanto, as tradicionais contratações temporárias do período, geralmente aquecido pelas compras de presentes ou renovação de móveis, eletrodomésticos ou automóveis.

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Há que se reconhecer que estamos todos no mesmo barco. O tempo se arrasta, e o funcionalismo observa seu soldo minguar, com a inflação deste ano quase alcançando dois dígitos, 9,5%.

Enquanto o governo aplica o arrocho salarial de servidores e não faz sua parte, contendo gastos ou definindo a tal reforma ministerial, piora seu relacionamento com os servidores federais, que, além de não obter respostas aos seus pleitos, observa o contínuo enxugamento do seu contingente concursado.

E a gente com isso?

Bom, parodiando o linguajar das redes, sendo nossas carreiras “agentes” do Estado, acompanhamos com preocupação a preservação de nossas instituições, órgãos sustentadores da estrutura responsável pela salvaguarda da Nação e do bem-estar social.

Ao oferecermos nossos serviços à cidadania, defendemos que eles sejam de excelência e isso somente é possível respeitando-nos como trabalhadores com direitos adquiridos e outros por conquistar, nunca em movimento de retrocesso. Nesse momento, o que vemos ocorrer já quase com frequência cotidiana é a oferta de diminuição salarial, caso do Distrito Federal, cancelamento de certames e a não reposição de vagas surgidas com as aposentadorias e greves de longa duração, a exemplo das universidades federais. O perigo é a moda pegar, usando-se como argumento a “crise” em efeito cascata. Então, novamente, agentes federais e cidadãos, juntos estaremos na mesma embarcação em mar revolto.

Destaque-se que os acordos da Campanha 2015 entre o governo e os servidores deveriam ter chegado a termo no final de agosto. No entanto, de maneira incansável, chamamos dia sim, outro também, a categoria para não arrefecer-se e lembrarmos um ao outro a importância da unidade de todos pelo bem comum.

Servidores defendem CGU

Depois da ameaça ao Banco Central, no início de agosto (Apito 123), o governo findou setembro cogitando retirar o status ministerial da Controladoria Geral da União. Na quarta-feira, 30, o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz, recebeu uma comissão de servidores, conduzida pela Unacon Sindical. No mesmo dia, o plenário do tribunal pronunciou-se em defesa da instituição.

No Senado, parlamentares de variadas legendas, governistas e da oposição, discursaram pela manutenção do status, lembrando as responsabilidades do trabalho da CGU.

Na tribuna, a senadora Fátima Bezerra (PT-RN), disse que a verba pública utilizada para custear as ações da Controladoria representa “investimento para a sociedade brasileira”. Para cada real, afirmou, “temos retorno de 19 reais”, informando que desde 2003, a CGU já recuperou bilhões desviados dos cofres públicos e demitiu mais de cinco mil servidores envolvidos em corrupção. Bezerra destacou, ainda, que a Controladoria tem o segundo menor orçamento da União.

Como na edição já citada do Apito, relativo ao Banco Central, questiona-se: a quem interessa fragilizar os órgãos de controle do Estado? O status, nesses dois casos, economizaria muito aos cofres públicos?

E como se vive hoje, como nunca antes, distorções e contradições de variadas matizes, não custa refrescar-se a memória e registrar um trecho do debate em torno da manutenção do nível ministerial de nossa Casa, ocorrido seis anos atrás, também no Senado. O então senador Aloizio Mercadante, economista e professor da PUC-SP, hoje ministro da Casa Civil, frisava ser (a MP) “indispensável para a estabilidade da economia”, acrescentando que 90 países já haviam adotado o foro especial para presidentes de seus bancos centrais. Reforce-se que o mundo, em 2009, ainda mergulhava nas águas turbulentas da crise de 2008, cujas sequelas são de triste lembrança. [N.E.: notícias de hoje pela manhã dão conta de estarem afastados, no momento, os riscos de perda do status de Ministro dos titulares do BC, CGU e Advocacia-geral]

Tudo junto e misturado?!

Na semana passada, quase ninguém entendeu o manifesto lançado pela Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, presidida pelo economista e professor da Unicamp, Márcio Pochmann, contra as diretrizes da política adotada pela gestão Rousseff.

E na quinta-feira, 1º, Brasília assustou-se ao ver um simpático pato amarelo de 15 metros fixado em frente ao Congresso Nacional e miniaturas deslizando sobre o espelho d’água, conhecido como “lago do ACM”, ali colocado pelo outrora poderoso presidente do Senado, já falecido, para apartar, diziam, manifestações populares das casas compostas por integrantes que representam o… povo.

A diferença, no caso do patão e dos patinhos, é que os bonecos faziam parte de um protesto da não menos poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. A performance lançava a campanha “Diga Não ao Aumento de Impostos”. A mais paulista das avenidas vê, desde a semana passada, essas gigantes aves de plástico, com a hashtag #nãovoupagaropato impressa no peito.

Voltando à fundação petista, partido da Presidente da República, em debate no “Entre aspas”, da GloboNews, na noite de terça-feira, 29 de setembro, Pochmann, quase ao final do programa, do qual participou junto com o professor da USP, Fabio Kanczuk, afirmou que o governo, com a atual política econômica, favorece somente os bancos.

Como se diz na brincadeira, se o professor, que presidiu o Instituto de Pesquisas Aplicadas (Ipea) ainda na gestão do presidente Lula, está dizendo…

Esperamos todos que a Presidente acolha pelo menos algumas sugestões apresentadas no manifesto. Quem sabe, não somente o Natal como também o réveillon possam trazer melhores dias e a esperança para as os trabalhadores e o país.

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