Edição 75 - 23/11/2017

Um consultório chamado Banco Central

 

A diretoria colegiada ainda não apresentou formalmente o seu famoso projeto de Banco Central, porém indícios inquietantes já surgem aos borbotões, a começar pelo nome pretendido para o cargo da carreira: “Consultor”.

A única referência para o cargo no serviço público federal é o legislativo, aonde servidores destas casas não possuem poder de decisão, suas únicas atribuições são a de elaborar subsídios que permitam a confecção de pareceres e propostas assinadas pelos detentores de mandato executivo. Não nos parece ser uma mera coincidência.

Uma diretoria colegiada com mandatos para tratar da política monetária e pouco mais do que isso sempre foi um sonho neoliberal clássico. Neste tipo de sonho a produção de riqueza passa exclusivamente pelos mercados, logo quanto menos travas e regulações melhor, pois só assim a plena criatividade do mercado financeiro produzirá riqueza para a sociedade.

Não faz muito tempo atrás, os lobbies dos grandes agentes financeiros americanos durante os governos Clinton e Bush abriram caminho para a imunidade regulatória dos então nascentes mercados de derivativos. Mesmo quando excrecências exuberantes como o mercado de hipotecas subprime produziu um oceano de títulos de valor duvidoso, o mercado financeiro americano esbravejava contra qualquer interferência do Banco Central americano, afinal de contas agências privadas de mensuração de risco garantiam plenamente a emissão daqueles títulos. O que aconteceu depois é história.

A crise de 2008 criou marcas profundas na sociedade americana, milhares e milhares de famílias perderam suas casas além do desemprego e da destruição maciça de trilhões de dólares em ativos contabilizados nas instituições financeiras. A economia americana e europeia despencaram. A solução, como era de se esperar, não foi dada pelo mercado e sim por uma quantidade inacreditável de dinheiro público despejada pelo FED e pelo Banco Central Europeu naquelas instituições falidas para serem apenas vendidas por preços simbólicos ou simplesmente fechadas. No Brasil, um Banco Central forte e atuante monitorou as eventuais sequelas para a nossa economia.

Depois de tão amargas lições poderíamos esperar que a manutenção de um Banco Central forte fosse uma prioridade para qualquer governo que se preocupasse minimamente com a sua economia e sua população.

Ocorre que o atual não é qualquer governo, Nele, a única preocupação é salvar a si mesmo e os seus amigos no Congresso Nacional. Tudo está à venda, inclusive, ao que parece, este antigo sonho de consumo da banca que agora pode estar se materializando: Um mini Banco Central 24 horas com um autoatendimento exclusivo para instituições financeiras.

Neste Banco, regionais são supérfluas, assim como um Meio Circulante organizado e dezenas de outras atividades de controle e supervisão.

O sigilo do projeto de Banco Central na atual conjuntura é mais do que preocupante, é uma ameaça.

Porque enviar um projeto no último ano de mandato de um governo com menos de 3% de aceitação? Às véspera de uma eleição presidencial? Qual é a pressa? Na decantada semana da cultura organizacional cadê a transparência da diretoria colegiada?

Talvez porque seja esta a última Black Friday do governo Temer.

A demonização do serviço público não ocorre por acaso.  Precisamos defender o Banco Central contra aqueles que o querem transformar em uma agência reguladora de segunda classe.
LUTE CONOSCO, PROCURE O SINAL! FILIE-SE!

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