E AGORA, JOSÉ?
Os jornais e revistas do £ltimo domingo nÆo deixaram d£vidas sobre o assunto relevante da semana passada: a vergonhosa atua‡Æo do ex-assessor de confian‡a da Casa Civil, em suposto esquema de propina e financiamento de campanhas eleitorais em 2002.
Contrariando o que havia sido anunciado – o ministro Aldo Rebelo entregaria, em lugar do ministro Jos‚ Dirceu, a mensagem do Presidente da Rep£blica na abertura oficial do Parlamento – o governo adotou a estrat‚gia da defesa
Atribuindo ao PSDB o “banho-maria” de um assunto passado, os caciques do partido da situa‡Æo defendem olimpicamente o governo, no qual nÆo teria sido apontada “nenhuma irregularidade”. Isso ‚ uma meia-verdade, vistos, por exemplo, os casos de Santo Andr‚ e as viagens de Benedita da Silva turbinadas com dinheiro p£blico (adicione-se mais um caso, o da exonera‡Æo, ontem, do secret rio de Gilberto Gil, titular da pasta da Cultura, por suspeita de favorecimento a um instituto que pertence a amigos do ministro).
A repercussÆo do epis¢dio Waldomiro extrapolou fronteiras: deu at‚ no New York Times que o escƒndalo “amea‡a engolir o governo de esquerda liderado pelo Partido dos Trabalhadores, que se apresentava como £nica for‡a limpa no obscuro mundo da pol¡tica brasileira“. Domesticamente, todos sabemos que nÆo vai dar em nada.
Tanto que o discurso de defesa, un¡ssono e monoc¢rdico, foi repetido … exaustÆo, estrategicamente, tanto pelos l¡deres e membros do partido no Congresso, como por aliados de primeira hora (leia-se Jos‚ Sarney): os fatos sÆo anteriores ao governo atual, o assessor foi exonerado imediatamente, o caso remetido …s “autoridades competentes” e bl -bl -bl …
Os exemplos de malversa‡Æo do dinheiro p£blico e de questäes ‚ticas jogadas para baixo do tapete estÆo pululando (sem trocadilhos, por favor) desde 2003. A propina de “apenas 1% de x ” do assessor direto da Casa Civil atinge agora o f¡gado do governo. Que, com o discurso moralizador e de conclama‡Æo … ‘ “solidariedade social” (at‚ agora s¢ cobrada dos servidores p£blicos) vem de obter vit¢ria escandalosa e in‚dita sobre direitos constitucionais hist¢ricos.
D para acreditar que esse “1% de x” ‚ o £nico buraco desse queijo su¡‡o chamado Brasil? D para acreditar que, buraco tapado (por CPI ou nÆo; “h controv‚rsias”), o pa¡s decola, “sanado” e salvo, “no primeiro aviÆo com destino … felicidade”?
Pasmo, o brasileiro se torna a cada dia mais c‚tico, visto que o partido baluarte do purismo moral e ideol¢gico, al‚m de se vir rendendo paulatinamente a velhas e antes condenadas pr ticas pol¡ticas, come‡a a “fazer gua” no seu n£cleo duro.
leg¡timo, inclusive, que se infiram outras situa‡äes j havidas e at‚ supor o conhecimento do fato por Jos‚ Dirceu. At‚ porque, como ‚ que se nomeia para um cargo de tanta relevƒncia um cidadÆo investigado pelo Minist‚rio P£blico desde o in¡cio de 2003? grave o acontecido: havia um corrupto extorsionista no Planalto em que o n£cleo do poder confiava havia doze anos! Uma CPI – honesta – talvez se impusesse, para tirar tudo a limpo.
Mas aumenta a descren‡a do povo nas institui‡äes. Quem hoje päe f‚ no Judici rio, na pol¡cia em suas v rias formas institucionais, no corpo fiscalizador do Estado, depois das den£ncias seguidas e avassaladoras que tˆm vindo … tona?
Nesse contexto em que o povo ‚ tratado como cego, surdo e “trouxa”, d para ser solid rio ao Presidente da Rep£blica, quando pede aos empres rios que nÆo aumentem seus pre‡os, quando o pr¢prio Estado nÆo p ra de inventar e/ou aumentar taxas?
No frigir dos ovos da reforma tribut ria, a despeito do discurso recorrente de que a carga de impostos permaneceria a mesma, o governo conseguiu trocar seis por bem mais do que meia d£zia: emplacou quase 100% sobre o percentual da COFINS, apesar da grita generalizada do mercado produtivo.
A sonega‡Æo passa a ser inevitavelmente o fruto dessa equa‡Æo tÆo perversa quanto antiga na cultura brasileira, cujas fei‡äes o brasileiro est podendo ver cada vez mais nitidamente: um Estado voraz e mau gastador + corrup‡Æo desenfreada x institui‡äes coatoras desaparelhadas e/ou desacreditadas pela sociedade.
Para o ministro Dirceu, tudo deve continuar como antes. A n¢s, brasileiros a quem s¢ cabe engolir essas hist¢rias sujas de bastidores, resta perguntar: e agora, Jos‚, em que mato nos metemos, n¢s que nem cachorros temos?