Edição 0 - 16/02/2004

O PODER E A ÉTICA: ACERTARÃO O PASSO?

 O epis¢dio Waldomiro Diniz, ex-assessor de confian‡a do Pal cio do Planalto envolvido em mais de uma ocorrˆncia de corrup‡Æo e amigo de doze anos do ministro Jos‚ Dirceu a ponto de com ele haver dividido o teto em Bras¡lia, deixa os brasileiros embasbacados.


Os aspectos envolvidos diretamente com o governo Lula devem ser bem apurados – j  que o pr¢prio ex-governador Garotinho declarou publicamente que sua indica‡Æo para a Loterj partiu do ministro citado, como participa‡Æo no governo estadual pela coliga‡Æo com o PT … ‚poca. O ocorrido traz, por‚m, … tona, uma discussÆo que deveria ser priorit ria para um governo que se intitula popular e honesto, e que diz estar em busca de justi‡a social.



A reforma pol¡tica, essa sim, deveria ser priorizada na agenda de governo. NÆo ‚ f cil fazˆ-lo, pois seria necess ria neste caso uma vontade pol¡tica sobre-humana que nÆo podemos exigir de nossos ilustres parlamentares, principalmente em ano eleitoral, quando iria esbarrar em seus in£meros, intrincados e insaci veis interesses.



O financiamento de campanhas pol¡ticas, como ‚ feito hoje, canaliza recursos esp£rios e danosos ao interesse social, tais como os oriundos do crime organizado, corrup‡Æo (em sua maior parte) e da caixa-dois das empresas.



Essa participa‡Æo tem sua face exposta quando vemos no Congresso o lobby contra a aprova‡Æo do estatuto do desarmamento, a pressÆo feita pelos parlamentares para a manuten‡Æo de suas emendas – que quase sempre trazem embutido o compromisso com empreiteiras para obras locais – ou no interesse demonstrado na regulamenta‡Æo de jogos e loterias.



Al‚m do aspecto da regula‡Æo dos recursos financiadores de campanhas, a reforma pol¡tica deveria propor regras de comportamento para os parlamentares, seu relacionamento com o partido e com a base eleitoral. Nos dias que correm, o troca-troca de sigla ‚ um achincalhe … seriedade de princ¡pios inerente a um parlamentar e o desrespeito aos eleitores ‚ flagrante: vide o exemplo de todos aqueles que votaram com o governo na reforma da previdˆncia, contrariando sua base e plataforma eleitorais.



Outro aspecto que deveria estar contido na reforma pol¡tica diz respeito … ‚tica necess ria para que um governo mantenha a governabilidade, o que certamente nos pouparia de assistir hoje o governo Lula fazendo alian‡as e pactos que fariam corar um frade de pedra, a ponto de ter que namorar com figuras p£blicas de atua‡Æo corrupta ineg vel.



Em detrimento dessas prioridades, o que temos visto ‚ a aprova‡Æo de algumas reformas e a ˆnfase em outras em que o trabalhador e a sociedade, iludida, nÆo tˆm como participar ou, quando ‚ instada a fazˆ-lo, ‚ usada para fazer coro aos interesses de grupos que mantˆm o poder de voto e decisÆo.



Um exemplo disso ‚ reforma da previdˆncia onde, em nome da moralidade e da justi‡a social, tira-se dos pobres inativos e pensionistas para preservar os gananciosos sal rios dos senadores, ex-governadores de Estado, que se acumulam.



Assim tamb‚m ser  com a reforma sindical, ocasiÆo em que os trabalhadores poderÆo ser usados para a homologa‡Æo de poderes …s centrais sindicais, que nÆo mais conseguem esconder sua subserviˆncia ao poder. Hoje ocupado em toda a sua extensÆo por um partido (talvez o £nico) especialista em oposi‡Æo, que usa sua disciplina doutrin ria singular para fazer o que nÆo admitia quando estava do outro lado: cooptar advers rios para aprova‡Æo de seus interesses.  a “mexicaniza‡Æo” a caminho (vide S£mula da Imprensa de 6.2.04).



A reforma trabalhista, j  se sabe, em nome da racionaliza‡Æo dos encargos trabalhistas, beneficiar  grupos monopolistas e grandes empres rios. Esquecidos de que caixäes nÆo tˆm gavetas, preferem gastar seus recursos em campanhas por adeptos no Congresso atrav‚s do Caixa 2, a serem louvados e lembrados por beneficiar diretamente, em vida, os trabalhadores que lhes tocam as empresas.



Nesse contexto de esvaziamento das liberdades e cerceamento de iniciativas, o servidor p£blico tem papel preponderante, embora sua luta esbarre na for‡a dos meios de comunica‡Æo. Estes £ltimos, tamb‚m comprometidos com o poder e, para usar as palavras de Jefferson Peres no artigo citado, “… fragilizados financeiramente, a dependerem de socorro de bancos estatais …” acabam convencendo a sociedade que pagar sal rios justos aos servidores p£blicos ‚ mais comprometedor para o or‡amento do que acabar com a bandalheira generalizada.



A conscientiza‡Æo dos servidores, por isso, ‚ fundamental para resistir a todo esse esquema perverso, sob pena de virem eles mais tarde a sentir-se, al‚m de inocentes in£teis, os “idiotas de plantÆo” do PT-governo.

Edições Anteriores RSS
Matéria anteriorJUROS ALTOS, RATEIO, REAJUSTE ZERO:
Matéria seguinteE PENSE, TAMB+M, COMO VOC- PODERIA OU GOSTARIA DE AJUDAR ESTAS INSTITUIÃiES: