Edição 211 – 21/12/2020

Corrosômetro projeta impactos do arrocho salarial


Agravamento da corrosão inflacionária. O próximo ano deverá ser marcado pelo irracional prosseguimento do arrocho remuneratório sobre o funcionalismo, que já dura mais de uma década. Segundo a mais nova atualização do Corrosômetro, a defasagem salarial em relação a julho de 2010 já é de 20,5%, enquanto que a estimativa da perda salarial acumulada corresponde a 21,1 salários deixados de receber no período de 10,5 anos. E, em janeiro de 2022, a defasagem poderá bater em 25%, caso se confirme a inflação prevista para o ano que vem.

A projeção leva em consideração a falta de qualquer reajuste no próximo exercício, haja vista a vigência da Lei Complementar 173/2020, sancionada em maio passado, que, sob a justificativa de prestar auxílio financeiro a estados e municípios, congelou remunerações até dezembro de 2021. À época da aprovação da matéria no Legislativo, lideranças das duas Casas e representantes da equipe econômica do governo – aparentemente, desconhecendo ou, quem sabe, não se importando com o arrocho indecente e continuado instituído pelo próprio governo – afirmavam que a classe precisaria dar sua cota de sacrifício diante do cenário adverso. O ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a declarar que o servidor não poderia “ficar em casa trancado com geladeira cheia, assistindo a crise”.

O discurso se repete. Com a pressão pela continuidade do auxílio emergencial e sem um projeto econômico por parte do Planalto, crescem as possibilidades de novas medidas de ajuste. Conforme informou a edição 209 do Apito Brasil, na última segunda-feira, 14 de dezembro, a entrega do parecer da Proposta de Emenda à Constituição 186/2019, conhecida como PEC Emergencial, ficou mesmo para o início do próximo ano.

No entanto, veículos da imprensa apontam que esta postergação pode servir para endurecer ainda mais o texto da matéria, uma vez que relatório extraoficial do senador Márcio Bittar (MDB/AP) – que circulou pelo Parlamento nas últimas semanas – havia excluído a previsão de corte de jornada e salários das carreiras públicas. O conteúdo do parecer não teria agradado ao ministro Guedes.

“A ideia é que o texto avance no Parlamento com a possibilidade de redução temporária em 25% na jornada e salário de servidores públicos pelos estados, municípios e União durante períodos de crise”, aponta reportagem do portal O Dia. Ao vislumbrar unicamente o aspecto financeiro, os defensores da ampliação da política de arrocho desconsideram que justamente em períodos de crise, como o atual, a demanda pelos serviços públicos aumenta de maneira significativa. Não só os servidores, mas a população, em especial as camadas mais pobres, também será punida.

É preciso manter a vigilância, pois os nossos salários continuam na berlinda e sujeitos à narrativa que, ano a ano, vem aprofundando as perdas.

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