Edição 0 - 10/11/2003

VEM AÍ A DISCUSSÃO DO ARTIGO 192: COMO FICAREMOS NÓS “NESSA FITA”?

Entrevistado pela Revista POCA ora em bancas, o Presidente
Henrique Meirelles foi colocado contra a parede em pelo menos duas
oportunidades.

Na primeira, os rep¢rteres lhe perguntam o que pensa da
afirma‡Æo recorrente do ex-Ministro Delfim Netto sobre os quadros do BC terem
uma £nica linha de pensamento em sintonia permanente com o mercado financeiro, e
da falta de cabe‡as diferentes na institui‡Æo acabarem por atrapalhar as
decisäes, por nÆo haver divergˆncias.

O Presidente do BC responde que, por regras do Banco, as
diversas – e diferentes – opiniäes dentro da Diretoria e do Copom nÆo devem ser
levadas ao conhecimento p£blico, o que mascara uma unidade de pensamento que nÆo
existe. Disse que, naturalmente, o n¡vel de capacita‡Æo t‚cnica e experiˆncia no
ramo detida por esse grupo de pessoas facilita uma convergˆncia de id‚ias, pois,
fruto da forma‡Æo acadˆmica, acaba havendo um parƒmetro de an lise comum, mas
que …" o fato de duas pessoas terem ph.D. nÆo significa que elas tenham
pensamentos similares
."

Na pergunta seguinte, os rep¢rteres citam a cr¡tica
generalizada ao Banco de que seus integrantes refletem o pensamento de um
segmento exclusivo da economia – ainda o mercado – distanciando-se da realidade
do povo brasileiro.

Henrique Meirelles diz nÆo ver essa distƒncia, considerando
que o Banco Central est  "muito pr¢ximo" da realidade das pessoas.
Baseia-se para isso em princ¡pio profissional em que sempre acreditou, que ‚ o
de medir qualquer a‡Æo nÆo por opiniäes, mas por resultados, exemplificando com
alguns fatos positivos ocorridos nos £ltimos meses, como a queda da infla‡Æo e
os super vites comercial e do balan‡o de pagamentos, sendo o primeiro deles o
maior da Hist¢ria.

Saiu-se delas, como era de se esperar para um entrevistado
com a sua qualidade acadˆmica, muito bem.

Fazemos todos, por‚m, parte dessa "plat‚ia" e sabemos que, no
imagin rio popular, as afirma‡äes contidas nas duas perguntas sÆo absolutamente
pertinentes e, portanto, espelham o que se considera a face verdadeira do Banco
Central. Para al‚m disso, entÆo, como funcion rios da Casa, somos
necessariamente levados a refletir sobre a estrutura, as atribui‡äes e as
conseqentes imagens – atual e futura – que queremos passar para a sociedade,
principalmente num momento decisivo como parece ser este (j  que o governo se
est  propondo a regulamentar o artigo 192) para a defini‡Æo dos rumos do Banco
Central no Brasil.

Para encetar essa reflexÆo, e definir alguns rumos,
consideramos que deva haver um trabalho institucional forte no sentido de mudar
essa imagem, e aproxim -la desse imagin rio popular, dessa "voz do povo, voz de
Deus".

Efetivamente, em seu papel de "regulador da moeda e do
cr‚dito", o Banco Central deve … sociedade brasileira – e as tem exercido –
relevantes fun‡äes. A despeito disso, por‚m, se manteve sempre na postura
distante e "superior" de um produto original da ditadura: como dono da verdade,
nÆo precisa explicar-se para legitimar seus atos. Nunca trabalhou para fazer ver
ao cidadÆo comum que est  atento a suas necessidades ou sequer vem a p£blico
para defender-se de tantas quantas acusa‡äes de il¡citos e irregularidades lhe
imputa a m¡dia, como se f“ra intoc vel por seus "estragos".

O C¢digo de Defesa do Cliente Banc rio elaborado pelo BC, que
esmi£‡a uma s‚rie de providˆncias a favor do cidadÆo, at‚ hoje nÆo deu
resultados pr ticos; o pr¢prio spread banc rio, tÆo demandado atualmente,
tamb‚m nÆo teve uma diminui‡Æo efetiva a ponto de favorecer seu benefici rio
mais fr gil: o consumidor e seu bolso.

Internamente, o desmonte paulatino da institui‡Æo que h 
longo tempo vem sendo levado a efeito tamb‚m nÆo ajuda numa efetividade
profissional que deveria ser tÆo maior, por exemplo, quanto mais se ampliam as
ofertas de cr‚dito e o acesso a servi‡os banc rios por parte da popula‡Æo e se
tornam complexas as atividades de corrup‡Æo no pa¡s.

Reestruturar o Banco Central valorizando seus servidores,
enfatizar suas atribui‡äes e o valor delas para a integridade e a higidez
financeiras do pa¡s, chamar a popula‡Æo a exigir seus direitos, ‚ obra
institucional que se faz necess ria urgentemente.

A teoria presidencial de medir resultados pode ser correta
nesse seu entendimento profissional "macro", mas "resultados", para o povo, vˆm
de contas mais simples: da conta de diminuir despesas do sal rio, da conta de
dividir o valor da geladeira pelas "n" presta‡äes do credi rio
cheio de juros embutidos, da conta de somar o n£mero de horas que se perde nos
Procons da vida para reclamar das taxas banc rias.

Vista como ‚ pelo povo a sua liga‡Æo com o meio financeiro –
um dos mais ricos e ligados … elite no Brasil – o BC ‚ considerado, ainda, muito
apartado das verdadeiras e di rias necessidades do cidadÆo comum, e isso precisa
mudar.

Porque, entre outros motivos, temos a certeza de que vocˆ,
servidor p£blico do Banco Central, desejaria saber que est  servindo tanto …
sociedade como para melhorar a imagem que ela tem do lugar onde vocˆ escolheu
trabalhar.

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